Segue o capítulo 6:
NINA ERA UMA BOA PARCEIRA PARA BEBER e não era só porque ela conseguia manter seu licor.
Mesmo quando não estava utilizando ativamente o espírito, ela possuía a mesma intuição que os usuários de espírito naturalmente possuíam. Ela rapidamente entendia quando eu queria falar sobre algo e, mais importante que isso, quando eu não queria. Nós começamos em um bar quieto, e eu estava feliz de deixá-la fazer o trabalho de falar. Não parecia que ela havia feito amigos nestes últimos meses na Corte, e com a saída de Olive, Nina teve poucas chances para desabafar.
– Eu simplesmente não compreendo, – ela disse. – As pessoas quase parecem ter medo de mim. Quero dizer, elas dizem que não têm, mas eu posso dizer que sim. Elas me evitam.
– O espírito ainda assusta muita gente, é só isso. E eu posso te dizer isso, após viver ao redor de Moroi, dhampirs, e humanos, é um fato que as pessoas têm medo do que elas não podem entender.
Eu enfatizei meu ponto agitando minha bebida. – e a maioria é muito preguiçosa ou ignorante para procurar sobre.
Nina sorriu, mas ainda parecia melancólica. – Sim, mas todo mundo parece aceitar Dimitri e Sonya. E eles na verdade, eram Strigoi. Parece que é muito mais difícil de lidar com a garota que só auxiliou na restauração.
– Oh, aconteceram muitas coisas loucas quando aqueles dois foram inicialmente restaurados, acredite em mim. Mas a reputação galante de Dimitri e seus atos heroicos logo se sobrepuseram a isso. Então Sonya conseguiu sua própria fama com toda aquela história de “Vacina de Strigoi’.
– É isso que precisamos fazer? – Nina perguntou. – Será que eu – e Olive – teremos que fazer boas ações para que assim as pessoas esqueçam nosso passado?
– Você não deve fazer nada que você não queira fazer, – eu disse ferrenhamente. – Foi por isso que Olive se foi? Será que era tão difícil de estar ao redor dos outros?
Nina franziu o cenho e olhou pela parte inferior de seus óculos. Ela estava bebendo cosmos, bebida com fruta demais para o meu gosto. Eu tomei um tempo à toa para me perguntar sobre que tipo de bebida Sydney iria beber, isso se ela alguma vez se permitiu se satisfazer. Algum tipo de coquetel como esse? Não, eu instantaneamente soube que se Sydney fosse beber alguma vez, seria vinho, e ela seria uma daquelas pessoas que poderia dizer a você o ano, a região e os componentes da terra onde as uvas cresceram, baseado em um pequeno gole. Eu? Teria sorte se conseguisse dizer a diferença entre um vinho em caixa e um vinho em garrafa. Pensar nela me fez começar a sorrir, e eu rapidamente escondi, para que Nina não visse e achasse que eu estava rindo dela.
– EU não sei o porquê Olive se foi, – ela disse por último. – E isso é tão ruim quanto sua primeira ida. Eu sou sua irmã, eu a trouxe de volta! – Nina arremessou sua cabeça para cima e lágrimas brilhavam em seus olhos cinza. – Se tem algo a incomodando, ela deveria vir a mim primeiro. Após tudo o que eu passei por ela… ela acha que eu não a escutaria? Será que ela não sabe o quanto eu a amo? Nós compartilhamos do mesmo sangue; essa é uma ligação que nada, nem ninguém pode quebrar. Eu faria tudo por ela – tudo – se ela só me pedisse, se ela só confiasse o suficiente em mim para pedir…
Ela tremeu, e havia um pequeno desequilíbrio na qualidade de sua voz, um que eu conhecia. Acontecia comigo quando o espírito começava a me fazer sentir instável.
– Talvez ela sinta que você já tenha feito muito por ela, – eu disse, colocando gentilmente minha mão sobre a sua. – Você já a alcançou em seus sonhos?
Nina concordou, se acalmando um pouco. – Ela sempre me diz que ela está bem e que ela só precisa de mais tempo.
– Bem, aqui está. Minha mãe me disse a mesma coisa quando ela estava presa. Às vezes, as pessoas precisam trabalhar nas coisas por elas mesmas.
-Eu acho que sim,- ela disse. – Mas eu ainda odeio o fato dela estar sozinha. Eu gostaria que tivesse ido para Neil ou outra pessoa.
– Acho que ele deseja isso também. Mas ele ficará feliz em saber que ela só está clareando a mente. Ele provavelmente respeita toda aquela coisa de jornada solidária. – eu terminei minha bebida e vi que a dela estava acabando também.
– Outra rodada? – ela perguntou.
-Nah. – eu levantei e deixei um pouco de dinheiro sobre a mesa. – Vamos achar um cenário diferente. Você disse que queria conhecer mais gente, certo?
– Sim… – sua voz ficou cautelosa, conforme ela se levantava junto comigo. – Você sabe onde encontrar alguma festa ou algo assim?
– Eu sou Adrian Ivashkov, – eu declarei. – As festas me acham.
Isso era um pequeno exagero, já que na verdade eu deveria buscar uma… mas eu estava certo da minha primeira tentativa. Uma nobre que esteve em minha sala em Alder, Vanessa Szelsky, costumava sempre dar festas aos finais de semana, nas acomodações de seus pais na Corte, e eu não tinha motivos para achar que as coisas haviam mudado em menos de um ano, especialmente desde que eu havia escutado que seu pais continuavam viajando excessivamente.
Vanessa e eu nos pegamos algumas vezes durante esses anos, o suficiente tanto que ela me respeitava de forma bem favorável, mas não no nível de poder me evitar ou ficar chateada por invadir sua festa com outra garota.
– Adrian? – ela exclamou, empurrando-se pelo embalado pátio, atrás da casa de seus pais. – É realmente você?
– Em carne. – Eu beijei a bochecha de Vanessa. – Vanessa, essa é Nina. Nina, Vanessa.
Vanessa deu a Nina uma rápida inspeção e levantou uma sobrancelha em surpresa. Vanessa era uma garota da alta sociedade se em algum lugar houver uma, e apesar dela provavelmente chamar isso de festa “casual”, seu vestido indubitavelmente veio da coleção de primavera de algum famoso designer. Ter seus cabelos e maquiagem prontos para esta noite custou provavelmente mais do que toda a roupa de Nina, que era apropriado para o trabalho de secretariado, mas era, na melhor das hipóteses, da prateleira de uma loja de departamento de médio porte. Não me incomodava, no mínimo, mas eu via que Vanessa estava deliberando. Nina percebeu isso também e apertou suas mãos nervosamente. Pelo menos, Vanessa deu de ombros e deu a Nina um genuíno sorriso amigável.
– Prazer em conhecê-la. Qualquer amigo de Adrian é bem vindo aqui – especialmente a partir do momento que você organizou para que ele saísse. – Vanessa fez beicinho, coisa que indubitavelmente ela praticara centenas de vezes em frente ao espelho para fazê-la parecer ainda mais adorável. – Onde esteve? Você sumiu da face da Terra.
– Negócio ultra secreto do governo, – disse, tentando fazer minha voz soar sinistra, mas ainda audível, acima da música. – eu gostaria de poder falar para vocês, senhoritas, um pouco mais, mas quanto menos se sabe, melhor. Para sua própria proteção.
Ambas zombaram com isso, mas eu ganhei minhas boas-vindas, e Vanessa nos acenou para prosseguirmos. – Venham e peguem uma bebida. Sei de várias pessoas que ficarão felizes em ver você.
Nina inclinou-se na minha direção enquanto caminhávamos através da multidão – acho que eu talvez fique fora do meu alcance aqui.
Coloquei um braço ao redor dela para conduzi-la depois de um rapaz balançando seus braços descuidadosamente ao contar uma história maluca. – Você ficará bem. E sério, estas pessoas são como qualquer outra que você conhece.
– As pessoas que conheço não comem normalmente camarão nas suas melhores porcelanas em uma mão enquanto tomam champanhe na outra.
– Tecnicamente – eu disse -, esses são camarões pequenos, não camarões, e eu tenho certeza que este na verdade é a segunda melhor porcelana da mãe dela.
Nina rolou seus olhos para mim mas eu não tive a chance de dizer muito mais à medida que a notícia espalhou que Adrian Ivashkov estava de volta. Nina e eu encontramos bebidas e arranjamos cadeiras perto de um largo de carpas, onde pessoas reuniram-se para virem conversar conosco. Alguns eram amigos que eu tinha festejado regularmente antes de partir para Palm Springs. Muitos outros eram aqueles atraídos pela fascinação e sigilo do meu longo desaparecimento. Eu nunca tive muita dificuldade em atrair amigos, mas um passado misterioso de repente elevou meu estoque mais do que qualquer coisa que eu poderia ter inventado.
Deixei escapar que Nina era uma usuária de espírito também e não interrompi os outros de chegarem à conclusão que ela era parte de qualquer negócio clandestino que eu estivesse envolvido. Eu fiz questão de aprensentá-la particularmente para alguns das menos enfadonhas crianças da realeza que eu conhecia, na esperança que ela talvez saísse daqui hoje à noite com alguns conhecidos sólidos. Enquanto para mim, eu assumi o papel que eu não fazia há eras e praticamente senti como um rei em meu próprio reino. Uma coisa que eu tinha aprendido ao longo dos anos era que confiança tinha um efeito poderoso nos outros, e se você agisse como se você merecesse atenção deles, eles acreditariam. Brinquei e flertei de uma forma que não fazia há meses e fiquei surpreso como facilmente tudo voltou para mim. O ápice dessa atenção foi inebriante, mas, como qualquer outra coisa, parecia vazio sem Sydney na minha vida. Logo eu me encontrei cortando o álcool enquanto a noite prosseguia. Por mais que eu amasse a fuga que as bebidas me traziam, eu estava determinado a procurar por Sydney de novo antes de ir para cama. E precisava de sobriedade para isso.
– Olha, olha, vejam quem voltou – uma voz desagradável de repente disse. – Eu não teria imaginado que você teria coragem para mostrar seu rosto em público depois da última vez.
Wesley Drozdov, babaca extraordinário, parou diante de mim, flanqueado por seus lacaios, Lars Zeklos e Brent Badica. E permaneci sentado e fiz um grande show ao olhar em volta e atrás de mim. – Você está falando com si mesmo? Eu não vejo um espelho em lugar algum. E sério, sua atuação não foi tão ruim. Você não deveria ficar tão para baixo por causa de um pequeno constrangimento como esse.
– Pequeno? – Perguntou Wesley. Ele deu um passo a frente e cerrou seus punhos, mas eu me recusei a me mover de onde eu estava. Ele deixou sua voz baixa. – Você sabe o quanto de problema eu me meti? Meu pai teve de contratar um bando de advogados para tirar daquilo! Ele estava furioso.
Eu botei um olhar de simpatia fingida e falei alto, fazendo-o se retrair. – Eu também ficaria, se uma garota humana chutasse o traseiro do meu filho. Oh, espere. Eu quem foi que chutou seu traseiro.
Nós tínhamos atraído um grande público, como estas coisas sempre faziam, e Vanessa logo veio correndo para perto. – Ei, ei – ela requereu. – O que está acontecendo?
– Oh, o de sempre – eu disse, dando a ela um sorriso preguiçoso. – Recuperando o tempo perdido, rindo de tempos passados. E se eu tiver aprendido uma coisa, é que Wesley me faz rir e rir.
– Você sabe o que me faz rir? – Wesley retrucou. Ele acenou em direção à Nina. – Sua acompanhante barata aqui. Eu já a vi antes. Ela é a recepcionista no escritório de meu pai. Você prometeu que daria a ela um emprego melhor se ela dormisse com você?
Senti Nina se endurecendo ao meu lado, mas eu não me atrevi deslocar meu olhar dos caras parados na minha frente. Eles começaram como um incômodo, mas agora eles estavam acendendo uma raiva sombria, não característica em mim. Olhar nos olhos de Wesley trouxe de volta todas as memória daquela noiva com Sydney quando ele e seus capangas planejaram em ganhar vantagem em cima dela. Pensamentos dos danos que eles pretendiam para ela misturaram com os medos de todos os perigos desconhecidos que ela talvez estivesse enfrentando agora.
Tornaram-se um e o mesmo, fazendo meu peito se apertar em raiva e medo.
Destrua-os, Tia Tatiana sussurrou na minha mente. Faça-os pagar.
Tentei ignorá-la e ocultar minhas emoções o melhor que podia. Ainda usando um sorriso idiota, eu disse
– Por isso, não. Ela está aqui comigo por escolha. Eu sei que isso é provavelmente um conceito estranho para você, considerando eu histórico com garotas. Vanessa, acho que Wes estava prestes a contar aquela história quando você apareceu – sobre o “bando” de advogados que seu pai teve de contratar para encobrir como ele e sua comitiva aqui tentaram salpicar com uma humana que era uma convidada da rainha? – Eu fiz um gesto grandioso. – Por favor, continue. Conte-nos como tudo se resolveu. E se eles deixaram você ficar com as drogas que você iria usar nela. Talvez venha a calhar com algumas das moças por aqui, hein?
Quebrei contato visual com Wesley tempo o suficiente para dar uma piscada exagerada para um grupo de garotas horrorizadas paradas perto. Eu tinha certeza que o quê Wesley tinha tentado fazer não era de conhecimento comum, nem tinha a intenção de ser quando chegou a mim falando sobre seu passado e advogados de seu pai. Humanos talvez fossem menos nos olhos de muitos Morois, mas salpicar – o ato de drogar um humano não alimentador e beber deles contra sua vontade – era um pecado bem feio entre nossa espécie. Humanos atraentes eram especialmente desejáveis para os cafajestes que tentavam isso, e Sydney tinha atraído o olhar de Wesley na última visita dela. Ele e os outros tentaram atacá-la, pensando que eu ajudaria. Eu acabei atacando-os com um gralho de árvore até os guardas aparecerem no local.
Eu não precisava das arfadas em volta de nós para confirmar que a história não tinha chegado às notícias locais. O rosto zangado de Wesley me disse tanto. – Seu filho da mãe…
Ele investiu em mim, mas eu estava esperando isto e tinha o espírito pronto. Telecinese não era uma habilidade de espírito que eu usava tanto assim, mas estava bem dentro do meu alcance.
Destrua-o! Destrua-o! Tia Tatiana insistiu.
Optei por algo um pouco menos selvagem. Com um pensamento, e mandei um daqueles chiques pratos de porcelana que Nina havia comentado voar na direção do rosto de Wesley. Ele o cortou com força ao lado da cabeça, despejando nele camarões e alcançando meus dois objetivos de dor e humilhação.
– Isso é um truque barato de usuário de ar! – Ele rosnou, tentando se mover em minha direção de novo. O ataque perdeu um pouco de seu impacto já que ele ainda estava tirando os camarões.
– Que tal isso? – Perguntei. Com um gesto da minha mão, o avanço de Wesley se interrompeu. Os músculos de seu corpo e rosto esticaram enquanto ele ordenava seus membros se moverem, mas a energia do espírito os bloquearam. Teria sido difícil para um usuário de ar dar conta deste tipo de completa imobilidade, e com certeza para diabo não era fácil para mim também, já que eu estava apenas um pouco sóbrio e estava usando uma habilidade desconhecida para mim. O efeito que ela gerava valia o esforço, julgando pelos olhares de admiração nos rostos de todos. Juntei o que consegui do que restou do espírito para me fazer parecer extra carismático para aqueles em volta. Era impossível compelir uma multidão, mas o espírito usado corretamente poderia fazer você muito mais cativante para os outros.
– Da última vez, vocês perguntaram se eu era um grande, mau usuário de espírito – eu comentei. – A resposta? Sim. E eu realmente não gosto quando babacas como vocês humilham qualquer garota – humana ou Moroi. Então, se você quiser se mexer de novo, você primeiro irá se desculpar com a minha linda amiga aqui. Depois você irá se desculpar com Vanessa por arruinar sua festa, que estava bastante incrível até vocês aparecerem suas caras nojentas e desperdiçarem seus camarões.
Era um blefe. Usar telecinece para prender uma pessoa inteira gastava um montante ridículo de espírito, e eu estava me esgotando. Wesley não sabia disso, no entanto, e ele estava apavorado em ficar imobilizado.
Por que parar aí? Tia Tatiana exigiu. Pense no que ele fez com Sydney!
Ele não teve sucesso. Eu a lembrei.
Não importa! Ele tentou machucá-la. Ele tem que pagar! Não o congele com espírito! Use-o para esmagar seu crânio! Ele precisa sofrer! Ele tentou machucá-la!
Por um momento, suas palavras e aquela tempestade de emoções cresceram em meu peito ameaçando me sobrepor. Ele tinha tentado machucar Sydney, e talvez eu não pudesse parar seus sequestradores atuais, mas eu poderia parar Wesley. Eu poderia fazê-lo pagar, fazê-lo sofrer por apenas pensar em machucá-la, ter certeza que ele nunca mais fosse capaz…
– Desculpe-me – Wesley disse rápido para Nina. – E para você também, Vanessa.
Eu hesitei por um momento, dividido entre o olhar desesperado em seu rosto e as insistências de Tia Tatiana – insistências que eu parte sombria de mim secretamente queria ceder. Logo, a decisão foi feita por mim. Eu não conseguiria segurar por mais tempo se eu quisesse. Meu domínio do espírito desapareceu, e ele desabou no chão em um monte deselegante. Ele apressou-se para ficar de pé e rapidamente se afastou, com Brent e Lars o sombreando como os bajuladores que eles eram. – Isto não acabou – Wesley avisou, se sentindo corajoso uma vez que ele tinha colocado mais distância entre nós. – Você se acha intocável, mas você não é.
Você mostrou fraqueza a ele, Tia Tatiana me disse.
– Saia – ordenou Vanessa. Ele deu um aceno em direção a dois de seus maiores amigos homens, que estavam mais do que felizes em ajudar Wesley em direção à porta. – E não pensem nunca mais em voltar para qualquer uma de minhas festas de novo.
Pelo murmúrio dos outros, Wesley e seus comparsas não iriam ser bem-vindos em festa alguma por um longo, longo tempo. Mas eu? De repente, eu era ainda mais uma estrela do que já era. Não apenas eu estava envolto de segredos, mas eu também tinha usado o ainda pouco compreendo poder do espírito para colocar um aspirante a mulherengo em seu lugar. As garotas na festa amaram isso. Até mesmo os rapazes gostaram. E ganhei mais convites e amigos do que jamais tive em minha vida – e isso queria dizer algo.
Mas eu também estava exausto. O sol estava ameaçando surgir no horizonte, e eu ainda estava no horário humano. Recebi os bons desejos com a muita humildade que consegui e tentei fazer meu caminho para a porta, prometendo a cada pessoa que eu faria questão de sair com eles depois. Aqui, Nina se intrometeu para me ajudar, me conduzindo através da multidão, assim como eu a guiei mais cedo, e dando dicas sobre negócios oficiais que eu supostamente tinha que lidar.
– O único negócio que eu quero ter agora é com o meu travesseiro – eu disse a ela com um bocejo, uma vez que tínhamos nos livrado da casa de Szelsky. – Estou quase morto em meus pés.
– Aquela foi uma mágica da pesada que você fez – ela me contou. – Eu quase nem notei que você havia parado de beber. Restrição bastante impressionante.
– Se eu tivesse como, eu viveria em um constante estado de alcoolismo – eu admiti. – Mas eu tento ficar sóbrio algumas vezes por dia. É… É difícil explicar, e eu não posso na verdade, mas tem algo que eu preciso fazer que necessita do meu juízo e espírito. Coincidiu de dar sorte hoje à noite que Wesley fez sua aparição naquela hora. Eu não teria sido tão impressionante se eu tivesse que dar conta de uma luta de braço.
Nina sorriu. – Eu tenho fé em você. Aposto que você teria sido incrível.
– Obrigado. Desculpe pelo o que ele disse a você.
– Tudo bem – ela disse encolhendo os ombros. – Estou acostumada.
– Mas isso não quer dizer que você precisa gostar – falei.
Alguma coisa vulnerável em seus olhos me disseram que eu tinha acertado algo, que aqueles comentários a marcaram profundamente. – Sim… Quer dizer, normalmente não dizem coisas assim tão explicitamente, mas eu tenho visto essa atitude em pessoas que eu tenho que lidar no trabalho. Entretanto você estava certo sobre a festa. Alguns deles não eram tão ruins quanto eu imaginava. – Sua voz de repente se tornou tímida. – E obrigada… obrigada por me defender.
Suas palavras e minha pequena vitória sobre Wesley me deram mais auto-determinação do que tive em semanas. Meu humor, que esteve se afundando em escuridão e auto-aversão por tanto tempo, levantou dramaticamente. Eu não era imprestável no fim das contas. Talvez eu não estive sendo capaz de encontrar Sydney ainda, mas eu ainda era capaz de pequenas coisas. Eu não poderia desistir da luta ainda. Quem sabe? Talvez hoje minha sorte iria mudar. Eu mal poderia esperar em acompanhar Nina de volta a sua casa para que eu pudesse voltar para a minha e procurar por Sydney.
Quando voltei, no entanto, estava claro que minha sorte continuaria a mesma nesse quesito. Sem Sydney. Aquele inebriante humor desabou, mas ao menos eu estava tão exausto que eu tive pouco tempo para me repreender por causa do fracasso. Caí no sono prontamente logo em seguida e dormi até quase à metade do outro dia vampiresco enquanto meu corpo continuava descobrindo em qual programação eu estava.
Quando eu acordei, meu telefone tinha uma mensagem de minha mãe, me lembrando do jantar mais tarde. Quando eu chequei a caixa de voz no telefone da minha suíte, eu descobri cerca de um milhão de mensagens dos meus novos “amigos”. O número do meu telefone celular não era amplamente conhecido, mas um monte de festeiros tinha dado um jeito de descobrir em qual prédio de visitantes eu estava e mandou mensagens por esse meio. Eu tinha oportunidades sociais por meses.
Mas hoje, eu tinha apenas uma que importava. Do meus pais. Eu não me importava muito com o meu pai, mas minha mãe tinha saído de seu caminho para me resgatar. Minha mãe tinha saído de seu caminho por mim em tantas coisas, sério, e eu devia isso a ela para ser respeitável na frente de seus amigos hoje à noite. Permaneci sóbrio por todo o dia e fiz coisas monótonas como lavar roupa ao invés de ir atrás de qualquer convite que eu tinha – incluindo um que tinha vindo da Nina. Por mais que eu gostasse dela, e por mais que eu me divertisse com ela, uma voz interior me disse que era mais sábio manter minha distância.
Apareci no condomínio dos meus pais dez minutos antes do jantar começar, usando um terno recém-passado e as abotoaduras da Tia Tatiana, e fui recebido pelo meu pai na sua grosseria habitual. – Bem, Adrian, eu assumo que qualquer negócio a rainha tenha lhe trazido para cá, deve ser importante.
O comentário me pegou de surpresa até que minha mãe entrou apressada na sala, parecendo elegante em uma seda verde esmeralda. – Agora, Nathan, querido, não tente arrancar segredos de estado dele. – Ele descansou uma mão em meu braço e deu uma pequena, controlada risada. – Ele esteve em cima de mim sobre isso desde que a rainha me permitiu acompanhá-lo de volta a seus negócio aqui. Eu disse a ele que eu queria apenas me atualizar, mas ele tem certeza que eu sei de coisas que ele não sabe.
Eu finalmente me toquei e lancei a ela um olhar agradecido quando sua atenção estava em outro lugar. Minha mãe não havia contado a ele que ela tinha me encontrado em um estupor alcoólico na Califórnia e me salvou de mim mesmo e de uma espiral descendente. Ela o tinha deixado pensar que era apenas um gesto materno impulsivo viajar comigo e ainda tinha usado isso como uma oportunidade para melhorar minha reputação. Eu não tinha necessariamente a necessidade de esconder meus comportamentos vergonhosos do meu pai, mas eu tinha de admitir, a vida era certamente mais fácil quando ele não os tinha esfregando na minha cara. Dizer que ele estava orgulhoso de mim talvez fosse forçar demais, mas ele certamente parecia satisfeito por enquanto, e isso foi o suficiente para fazer a noite ser passavel.
Os convidados do jantar eram outros da realeza que eu havia encontrado algumas vezes através dos anos, pessoas sobre as quais eu conhecia pouco, exceto que meus pais estavam preocupados em impressioná-los. Minha mãe, que eu tinha certeza que nunca havia cozinhado ela mesma uma refeição em sua vida, inspecionou cada detalhe na atuação do chefe deles, garantindo que cada prato fosse perfeito, seja que estivesse de acordo com o vinho servido ou simplesmente como fosse posicionado no prato. Depois de um dia de bom comportamento (e tendo procurado pela Sydney logo antes de vir para cá), eu me permiti uma amostra de um pouco do vinho, e mesmo que eu pudesse identificar corretamente a região ou o tipo de solo, eu podia dizer que meus pais não estavam economizando.
Logo eu aprendi por quê: Este era a primeira tentativa real dos meus pais de voltar à sociedade desde o retorno da minha mãe da prisão. Ninguém os tinha convidado para lugar algum desde que ela tinha voltado, então meus pais estavam fazendo o gesto de abertura, pretendendo mostrar para o mundo da realiza real Moroi que Nathan e Daniella Ivashkov eram companhias dignas. Isso estendia a mim da mesma forma, já que meus pais saíram de seus caminhos para sempre trazerem à tona o “negócio importante” que eu alegadamente estava. Meu relacionamento com Jill e seu isolamento eram segredos – nem mesmo meus pais sabiam destes detalhes – mas o trabalho de Sonya com a vacina era conhecido, e todo mundo estava curioso para aprender mais.
Eu expliquei o melhor que podia, usando termos leigos e evitando segredos de estado. Todos pareciam impressionados, principalmente meus pais, mas fiquei agradecido quando a atenção saiu de mim. O jantar ocorreu com algumas conversas políticas, que eu achei levemente interessante, e conversas de sociedade, que eu não achei nada interessante. Isso nunca tinha sido coisa minha, mesmo antes dos eventos que mudam a vida em Palm Springs. Eu não me importava com pontos de golfe ou promoções de trabalho ou futuros encontros formais. Ainda consciente de meu papel, eu sorri educadamente por todo o momento e me contentei a apenas tomar mais do excelente vinho. Pela hora que o último convidado partiu, eu podia dizer que nós ganhamos eles com sucesso e que Daniella Ivashkov seria bem-vinda de volta à sociedade da realeza que ela almejava.
– Bem – ela disse com um suspiro, se afundando em uma das formais namoradeiras recém-estofadas da sala de estar. – Eu me atrevo a falar que foi um sucesso.
– Você fez bem, Adrian – me pai adicionou. Isso era um grande elogio, vindo dele. – Nós temos um pouco menos de problemas para nos preocupar por agora.
Eu terminei o vinho do porto que havia sido servido com a sobremesa. – Eu não diria que não ser convidado para o chá anual de verão de Charlene Badica constitui um “problema”, mas se eu puder ajudar, fico satisfeito.
– Ambos ajudaram a consertar o dano que você causou para esta família. Vamos esperar que isso continue. – Ele se levantou e espreguiçou. – Estou indo para meu quarto. Verei vocês dois pela manhã.
Ele já havia ido por uns trinta segundos quando o impacto total de suas palavras penetraram em meu cérebro encharcado de vinho. – Quarto dele? Não é seu quarto também?
Minha mãe, ainda parecendo linda depois dessa longa noite, elegantemente cruzou suas mãos em seu colo. – Na verdade, querido, eu estou dormindo em seu antigo quarto agora.
– Meu…- e lutei para juntar algum sentido. – Espere. É por isso que você me mandou para a casa de hóspedes? Pensei que você disse que precisava do meu próprio espaço.
– Ambos, de verdade. Você precisava de seu próprio espaço. E quanto ao outro… bem, desde o meu retorno, seu pai e eu decidimos que as coisas corriam muito mais suave se cada um de nós vivesse sua própria vida aqui… debaixo de um mesmo teto.
Seu tom era tão fácil e agradável que quase fez ser difícil pegar a gravidade da situação. – O que isso significa? Vocês vão estão se divorciando? Vocês estão separados?Ela juntou as sobrancelhas – oh, Adrian, essas são palavras tão feias. Além do mais, pessoas como nós não se divorciam.
– E pessoas casadas não dormem em quartos separados – eu argumentei. – De quem foi essa ideia?
– Foi mútua – disse. – Seu pai desaprova o que eu fiz, e o constrangimento que causou para todos nós. Ele decidiu que ele não pode perdoar isso, e honestamente, eu não me importo em dormir por conta própria.
Eu estava boquiaberto – então se divorcie, e fique por conta própria de verdade! Porque se ele não pode perdoá-la por agir impulsivamente para salvar seu próprio filho… bem, eu nunca fui casado, mas isso não parece ser o protocolo de um bom marido. Assim não é a forma que você trata alguém que você ame. E eu não sei como você consegue amar alguém que a trate assim.
– Querido, – ela disse com uma pequena risada – amor não tem nada a ver com isso.
– Tem tudo a ver com isso! – Eu exclamei. Eu prontamente baixei minha voz, temendo que eu sem querer trouxesse meu pai de volta, e eu não estava totalmente pronto para isso. – Por que outro motivo se casar, ou permanecer casado, se não por amor?– É muito complicado – ela disse naquele tipo de tom que ela usava comigo quando criança. – Há o status para considerar. Não pareceria certo se nós separássemos. Isso, e… bem, todas as minhas finanças então entrelaçadas com a de seu pai. Tivemos papéis elaborados quando casamos, e vamos colocar dessa maneira: se ele e eu nos divorciarmos, eu não teria como me sustentar.
Eu pulei de pé – eu irei sustentá-la então.
Ela encontrou meu olhar ao mesmo nível – com o quê, querido? Com suas aulas de arte? Eu sei que a rainha não lhe paga por sua ajuda… embora Deus sabe que ela deveria.
– Eu vou arranjar algum trabalho. Qualquer trabalho. Nós talvez não tenhamos muito com o que começar, mas você teria pelo menos seu respeito próprio! Você não precisa ficar aqui, amarrada com o dinheiro e julgamento dele, fingindo que isto é amor!
– Não há fingimento. Isto é o mais próximo de amor que você pode conseguir no casamento.
– Não acredito nisso – eu disse a ela. – Eu sei o que é o amor, mãe. Eu tive amor que queima em cada fibra do meu ser, que me puxa a ser uma pessoa melhor e me fortalece em cada momento do dia. Se você tivesse tido algo assim, você se seguraria nele em cada pedaço da força que você possui.
– Você só pensa isso porque você é jovem, e você não conhece nada melhor – ela estava tão odiosamente calma, que quase me fez mais chateado. – Você acha que amor é um relacionamento imprudente com uma dhampir, só porque é excitante. Ou você está se referindo à garota que você estava se lamentando no avião? Onde ela está? Se o seu amor é tão consumidor e pode triunfar sobre qualquer coisa, por que vocês não estão juntos?
Boa pergunta, disse Tia Tatiana.
– Porque… não é assim tão fácil – eu disse a minha mãe com os dentes cerrados.
– Não é assim tão fácil porque não é real – ela respondeu. – Pessoas jovens confundem paixão com “verdadeiro amor” quando não existe tal coisa. Amor entre uma mãe e seu filho? Sim, isso é real. Mas alguma ilusão romântica que conquista tudo? Não se engane. Seus amigos, que tiveram romances tão grandes, eventualmente irão ver a verdade. Esta garota sua, onde quer que esteja, não vai voltar. Pare de perseguir um sonho e foque em alguém que você possa construir uma vida estável junto. Isso o que o seu pai e eu fizemos. Isso o que nós sempre fizemos… e me atrevo a dizer que deu certo para nós.
– Sempre? – Perguntei em voz baixa – você sempre viveu esta fraude?
– Bem – ela admitiu -, algumas partes do nosso casamento foram mais… amigáveis que outras. Mas nós sempre fomos pragmáticos quanto a isso.
– Você tem sido fria e superficial quanto a isso – eu disse. – Você me disse quando saiu da prisão, que compreendia as coisas que importavam. Aparentemente não, se você está desejando continuar com essa farsa, com um homem que não a respeita, por imagem e dinheiro! Nenhuma segurança recompensa isso. E eu me recuso a acreditar que isto é o melhor que qualquer um pode esperar de amor. Há mais sobre isto do que isso. Eu terei mais do que isso.
Os olhos de minha mãe quase pareceram tristes quando me encontraram – então onde está está, querido? Cadê sua garota?
Eu não tinha uma boa resposta para ela. Tudo que eu sabia era que eu não poderia mais suportar ficar ali. Eu disparei para fora do condomínio, surpreso por sentir as pontadas de lágrimas em meus olhos. Eu nunca imaginei meus pais como tipos carinhosos, românticos, mas eu acreditava que haveria ainda algum tipo de forte afeição ao invés de, ou talvez por causa de, suas personalidades fortes. Ser contado que era uma farsa, que todo amor era uma farsa, não poderia ter vindo em hora pior. Eu não acreditava nisso, claro. Eu sabia que havia amor verdadeiro lá fora. Eu havia vivido isso em primeira mão… mas as palavras da minha mãe penetraram porque eu estava vulnerável no momento, porque não importava o quão popular eu fosse na Côrte ou quão boas minhas intenções fossem, eu ainda não estava perto em encontrar Sydney. Minha cérebro não acreditou na minha mãe, mas meu coração, tão cheio de medo e dúvidas, preocupou que houvesse verdade nas palavras dela, e aquele sombrio, melancólico puxão do espírito fez as coisas piores. Fez eu duvidar de mim mesmo. Talvez eu nunca fosse encontrar Sydney. Talvez eu nunca fosse encontrar amor. Talvez desejar muito algo não fosse o bastante para fazê-lo acontecer.
O tempo havia esfriado do lado de fora, e um vento prometeu chuva. Eu pausei na minha caminhada e tentei alcançar Sydney, mas o vinho do jantar encobriu meus poderes. Eu desisti e peguei meu celular ao invés, optando por maneiras mais simples de comunicação. Nina atendeu no segundo toque.
– Ei – ela disse. – Quando eu não ouvi sobre você, pensei… Bem, deixa para lá. Como está tudo?
– Está melhor. Você quer fazer algo hoje à noite?
– Claro. O que você tem em mente?
– Não importa – eu disse. – Você pode escolher. Eu tenho um milhão de convites. Nós podemos ir a festas a noite toda.
– Você não precisa de um descanso em algum ponto? – Ela provocou, não sabendo o quão perto estava em atingir um nervo. – Pensei que você tivesse dito que tentaria ficar sóbrio de vez em quando.
– Pensei em minha mãe, presa em um casamento sem amor. Pensei em mim, preso sem opções. E pensei em Sydney, que estava simplesmente presa. Era tudo excessivo, muito para mim para fazer qualquer coisa a respeito.
– Não hoje à noite – eu disse a Nina. – Não hoje à noite.