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Silver Shadows: Capítulo 5 Traduzido
28 julho 2014

Segue mais um capítulo de Silver Shadows que foi liberado e traduzido por nós para vocês.

Silver Shadow será lançado dia 29 de julho de 2014.

Silver Shadows – Capítulo 5

Sidney

POR UM MOMENTO, QUANDO EU VI a seringa de Sheridan, eu pensei que ela estava optando por uma forma extrema de retocar tatuagem. Como, ao invés de injetar em minha pele pequenas porções de tinta encantada, ela iria enfiar em mim uma dose monstruosa para me fazer andar na linha.

Não vai importar, tentei dizer a mim mesma. Uso de mágica me protege, não importa quão forte a porção que eles usem. As palavras soavam razoáveis, mas eu apenas não tinha certeza se elas eram verdadeiras.

Como se viu, no entanto, Sheridan tinha algo totalmente diferente na cabeça.

— As coisas pareciam tão promissoras para você depois que nos falamos a última vez — ela me disse após mergulhar a agulha em meu braço. — Não consigo acreditar que você não durou uma hora por conta própria.

Eu quase disse — Velhos hábitos são difíceis de morrer —, mas lembrei que eu precisava agir arrependida se eu quisesse algum tipo de avanço. — Desculpe—me — eu disse. — Eu apenas escorreguei. Eu irei me desculpar com Harrison se isso irá…

Um sentimento estranho começou a subir na minha barriga, começando a princípio como um pequeno desconforto e então aumentando e aumentando até que era uma completa náusea, daquele tipo que se apoderava de todo seu corpo. Meu estômago parecia que tinha ondas marítimas nele, e minha cabeça começou a pulsar. Eu podia sentir minha temperatura subindo também e suor irrompeu por todos os lugares.

— Eu vou passar mal — eu disse. Eu queria colocar minha cabeça para baixo, mas a cadeira me deixou presa no lugar.

— Não — disse Sheridan. — Você não irá. Ainda não. Aproveite o show.

Junto com as restrições de braço, o apoio de cabeça da cadeira também fazia certeza que eu não pudesse virar minha cabeça, me forçando assim a olhar estritamente para frente no monitor. Ele ligou, e eu me preparei para imagens horríveis. O que eu vi ao invés era… Moroi. Alegres Morois. Amigáveis Morois. Crianças Morois. Morois fazendo coisas comuns, como esportes e comendo em restaurantes.

Eu estava miserável demais para decifrar essas imagens desorientadoras, no entanto. Tudo que eu conseguia pensar era sobre como eu gostaria de poder vomitar. Era aquele tipo de enjoo — do tipo em que você sabe que você se sentiria melhor se você apenas conseguisse expelir o veneno. Mas de alguma forma, Sheridan estava certa, eu não conseguia fazer meu corpo vomitar, não importa o tanto que eu talvez desejasse, e ao invés eu tive de sentar lá passando tão mal, com a retorcida náusea estragando minhas entranhas. Ondas de agonia me varreram. Não parecia possível que eu conseguir conter tanta miséria dentro de mim. Eu grunhi e fechei meus olhos, principalmente para fazer minha cabeça sentir melhor, mas Sheridan leu outro motivo nisso.

— Não — ela disse. — Esta é uma dica de profissional: Será muito mais fácil para você se você assistir de espontânea vontade. Nós temos maneiras de deixar seus olhos abertos. Você não gostará deles.

Eu pisquei de volta lágrimas e foquei de volta para a tela. Apesar do meu sofrimento, meu cérebro tentou entender por que ela se importava se eu estava assistindo a figuras de Moroi felizes ou não. O que importava quando meu corpo sentia como se estivesse virando do avesso?

— Você está  tentando… — eu engasguei, e por um momento, eu pensei que talvez eu tivesse aquele alívio no fim das contas. Não tive. — … criar algum tipo de resposta Pavloviana.
Era uma técnica clássica de condicionamento. Mostrar—me uma imagem e me fazer sentir terrível enquanto eu a olhava, com o objetivo sendo que eu eventualmente viesse a associar os Moroi — Moroi inofensivos, felizes — com extremo desconforto e sofrimento.

Havia apenas um problema.

— Vo—você precisa repetir sessões para isto fazer efeito — eu percebi em voz alta. Uma vez não iria me fazer sentir revulsão instantaneamente para imagens de Moroi.

O olhar que Sheridan me deu disse bastante sobre o que eu poderia esperar no futuro.
Meu coração se afundou. Ou talvez fosse meu estômago. Honestamente, com a forma que minhas entranhas se sentiam no momento, eu não conseguia distinguir uma parte da outra. Eu não sei por quanto tempo eles me manteram naquele estado. Talvez uma hora. Eu não conseguia realmente focar em contar o tempo quando meu objetivo era apenas sobreviver cada onda esmagadora de vertigem. Depois do que pareceu ser uma eternidade, Sheridan me deu outra injeção, e a tela ficou preta. Seus capangas desfizeram as amarras, e alguém me entregou um balde.

Por alguns segundos, eu não tinha entendido. Então, o que quer que estivesse restringindo meu corpo de encontrar alívio não mais se segurou. Tudo daquele almoço escasso voltou, e mesmo depois, meu estômago ainda continuava tentando. Eu fui reduzida a vômitos secos e finalmente apenas engasgando até eu parar completamente. Foi um longo, doloroso processo, e eu estava além do ponto de importar que eu tinha vomitado — excessivamente — na frente de outros. Ainda assim, por mais horrível que tivesse sido, eu ainda me sentia melhor, agora que eu tinha finalmente conseguido me livrar do que quer que tivesse causado aquela náusea se remexer e remexer dentro de mim. Um dos capangas discretamente pegou o balde de mim, e Sheridan me deu a cortesia de um copo de água, assim como a chance de escovar meus dentes dentro em uma pequena pia no lado do cômodo. Era ao lado de um armário cheio de suprimentos médicos, assim como um espelho que me permitiu ver quão miserável eu parecia.

— Bem então — Sheridan disse alegremente. — Parece que você está preparada para a aula de artes.

Aula de artes? Eu estava pronta para me enrolar que nem uma bola e cair no sono. Todo o meu corpo estava fraco e tremendo, e meu estômago parecia como se tivesse sido revirado do avesso. Ninguém parecia notar ou importar com meu estado debilitado, no entanto, e o capanga me acompanhou para fora da sala. Sheridan deu tchau com a mão e disse que ela me veria em breve.

Minha escolta me levou escada acima para o andar de salas de aula, para o que servia como estúdio de arte de detentos. Addison, a severo e andrógena matrona do refeitório, estava iniciando a aula, dando instruções das tarefas de hoje, o que parecia ser a continuação de uma pintura de vasilha de frutas. Ao que parecia uma aula de arte Alquimista teria o projeto mais chato de todos. Apesar de sua fala, todos os olhos giraram em minha direção quando eu entrei. A maioria das expressões que eu encontrei era frias. Algumas eram um pouco presunçosas. Todos sabiam o que tinha acontecido comigo.

Uma coisa legal que eu tinha pescado nesta aula e na anterior foi que na reeducação, os lugares valorizados eram os mais perto dos professores, diferente de Amberwood. Isso me permitia escorregar a um cavalete no fundo da sala. A maioria dos olhos nao conseguiam me seguir até lá a não ser que eles descaradamente virassem e ignorassem Addison. Ninguém estava disposto a fazer isso. A maior parte do meu esforço estava focado em permanecer em pé, e eu apenas a ouvi falar com metade do meu ouvido.

— Alguns de vocês fez um bom progresso ontem. Emma, o seu em particular está se tornando bonito. Lacey, Stuart, vocês vão precisar recomeçar.

Eu espiei em volta, tentando combinar as pessoas com seus cavaletes, os quais eu tinha uma visão total de trás. Pensei que talvez minha recente expurgação tivesse apodrecido meu cérebro, porque os comentários de Addison não faziam sentido. Mas não, eu tinha certeza que eu tinha acertado as pessoas. Aquela era Emma, minha alegada colega de quarto, uma garota que parecia ser da linhagem americana asiática e que vestia seu cabelo preto em um coque muito preso, eu jurava que esticava sua pele. Sua pintura parecia nada especial para mim e era mal dicernível como fruta. Stuart era uma das pessoas que tinha empurrado suas carteiras para longe de mim na aula de Harrison. Ele na verdade parecia possuir algum talento artístico, e eu pensei que sua pintura era uma das melhores. Demorou um momento para eu aprender quem era Lacey, e eu descobri quando ela trocou sua tela por uma nova. Sua pintura não era tão boa quanto a de Stuart, mas era muito melhor do que a de Emma.

Não é questão de habilidade, eu finalmente compreendi. É sobre precisão. As pêras de Stuart eram perfeitas, mas ele tinha adicionado algumas a mais do que tinham na vida real. Ele também tinha alterado a posição das frutas e pintado uma vasilha azul — o que parecia muito melhor do que a atual marrom que estava sendo usada. Emma, enquanto criou um trabalho muito mais rudimentar, tinha o número correto de frutas, tinha as posicionados perfeitamente, e tinha combinado cada cor exatamente. Os Alquimistas não queriam criatividade ou embelezamento. Isso era sobre copiar o que você tinha sido dito para fazer, sem questionamento e sem desvio.

Ninguém fez esforço algum para me ajudar ou aconselhar, então eu fiquei lá estupidamente por um tempo e tentei entender o que os outros estavam fazendo. Eu sabia os básicos da pintura com acrílico por estar perto de Adrian mas não tinha experiência prática própria. Havia um suprimento comunitário de pincéis e tubos de tinta perto das frutas, então eu fiz meu caminho até lá com alguns dos outros estudantes e tentei pegar minha cor inicial. Todos me deram um amplo espaço, e quando eu selecionei e rejeitei uma cor de tinta por não ser próximo o bastante da combinação, a próxima pessoa que a pegou fez questão de limpar o tubo antes de levá—la para sua estação. Eu finalmente retornei para a minha com vários tubos, e enquanto eu não podia falar sobre minha habilidade de copiar a fruta, eu senti bastante confidente que minhas cores estava corretas. Eu pelo menos podia jogar essa parte do jogo Alquimista.

Começar era um trabalho demorado, no entanto. Eu ainda me sentia terrível e fraca e tive trabalho em até mesmo em espremer um pouco da tinta. Esperava que não estivéssemos sendo avaliados em rapidez. Tão logo quando eu estava finalmente pensando em talvez tentar em colocar o pincel na tela, a porta da sala se abriu, e Sheridan entrou com um de seus capangas. Cada um estava segurando uma bandeja cheia de copos, e eu não precisava que ela dissesse uma palavra porque eu conseguia identificar os conteúdos apenas pelo cheiro.

Café.

— Desculpe pela interrupção — disse Sheridan, usando seu grande sorriso falso. — Todo mundo tem trabalhado tão duro ultimamente que nós pensamos em oferecer um pequeno agrado: lattes de baunilha.

Eu engoli e encarei em descrença enquanto os meus companheiros encarcerados se abundavam em direção a ela e cada um pegou um copo. Lattes de baunilha. Quantas vezes eu sonhei com eles no cativeiro, quando eu estive semi—faminta com aquela sopa de aveia morna? Nem mesmo importava se eles fossem magros ou cheios de açúcar. Eu estive privada de qualquer coisa como essa por muito tempo, e meu instinto natural era correr com os outros e pegar um copo.

Mas eu não conseguia. Não após os vômitos que eu acabei de passar. Tanto meu estômago quanto minha garganta estavam feridos, e eu sabia que se eu comesse ou bebesse alguma coisa que não fosse água, iria voltar na hora. O canto de sereia do café era tortura para a minha mente, mas meu pobre, sensível estômago sabia melhor. Eu não conseguiria lidar nem com a sopa de aveia agora, muito menos com algo tão ácido como este latte.

— Sydney? — Perguntou Sheridan, fixando aquele sorriso para mim. Ela levantou sua bandeja. — Há um copo sobrando. — Eu balancei minha cabeça em silêncio, e ela colocou o copo na mesa de Addison. — Eu vou apenas deixar aqui no caso de você mudar sua ideia, tudo bem?

Eu não conseguia tirar meus olhos daquele copo e me perguntei o que Sheridan gostaria mais: me ver sofrendo e privada, ou me ter arriscando tudo e vomitando na frente dos meus colegas de classe.

— Favorito seu? — Uma voz baixa perguntou.

Eu tinha tanta certeza que ninguém poderia me perguntar tão diretamente que eu nem mesmo olhei para o falante de imediato. Com grande esforço, eu arrastei meu olhar do almejado latte e descobri que era meu vizinho que tinha falado, um alto, bonito cara que talvez era cinco anos mais velho do que eu. Ele tinha um corpo magro e usava óculos com armações de arame que davam um ar intelectual, não que Alquimistas precisassem.

— O que faz você dizer isso? — Perguntei silenciosamente.

Ele sorriu sabiamente. — Porque é isso como sempre é. Quando alguém vai para sua primeira sessão de vômitos, o resto de nós ganha “recompensas” com alguma das comidas predileta da pessoa. Desculpe por isto, por sinal. — Ele pausou para tomar um pouco do latte. — Mas eu não bebia café há séculos.

Eu me encolhi e olhei para longe. — Esbalde—se.

— Pelo menos você resistiu — ele adicionou. — Nem todo mundo resiste. Addison não gosta do risco de nós derramarmos bebidas quentes aqui, mas ela gostaria menos se alguém passasse mal em seu estúdio.

Eu olhei para nossa professora, que estava dando avisos para um detento com cabelos grisalhos. — Ela não parece gostar de várias coisas. Exceto chiclete.

O aroma do café era mais forte do que nunca na sala, ambos sedutor e repugnante. Tentando desesperadamente bloqueá—lo, eu levantei meu pincel e estava prestes a tentar algumas uvas quando ouvi um som de desaprovação ao meu lado. Olhei de volta para o cara, que balançou a cabeça para mim.

— Você vai mesmo começar assim? Vamos lá, talvez você não tenha os valores de uma boa Alquimista, mas você ainda deveria ter a lógica de uma. Aqui. — Ele me ofereceu um lápis. — Esboce. Pelo menos comece com quadrantes para lhe guiar.

— Você não está com receio que eu contamine seu lápis? — As palavras saíram antes que eu pudesse pará—las.

Ele riu.

— Você pode ficar com ele.

Eu voltei para a tela branca e a encarei por vários momentos. Cautelosamente, eu dividi minha tela em quatro partes e depois fiz o meu melhor para fazer um grosseiro esboço da vasilha de frutas, prestando cuidadosa atenção em onde cada peça estava em relação às outras. No meio, eu notei que o cavalete era muito alto para mim, complicando ainda mais as coisas, mas eu não conseguia descobrir como ajustá—lo. Percebendo minhas dificuldades, o cara ao meu lado se debruçou e habilmente abaixou meu cavalete para um altura mais adequada antes de prosseguir seu próprio trabalho.

— Obrigada — eu disse. A esperançosa tela na minha frente diminuiu qualquer prazer que eu meio que tinha sentido pelo gesto amigável. Eu tentei esboçar novamente. — Eu vi meu namorado fazer isso centenas de vezes. Nunca pensei que eu estaria fazendo isso em um tipo de “terapia” retorcida.

— Seu namorado é um artista?

— Sim — eu disse com cautela, incerta se eu queria engajar neste assunto. Graças a Sheridan, não era segredo que meu namorado era um Moroi.

O cara deu uma pequena risada de divertimento. — Artístico, hein? Nunca tinha ouvido essa antes. Normalmente quando eu encontro garotas como você — que se apaixonaram por caras como eles — tudo que eu sempre ouço é sobre como eles eram bonitinhos.

— Ele é muito bonito — admiti, curiosa em quantas garotas como eu este cara encontrou.
Ele balançou sua cabeça em divertimento enquanto ele trabalhava em sua pintura. — Com certeza. Acho que ele precisaria ser para você arriscar tanto, hein? Alquimistas nunca se apaixonam por Moroi que não sejam bonitos e filósofos.

— Eu nunca disse que ele era filósofo.

— Ele é um vampiro “muito bonito” que pinta. Você está dizendo que ele não filosofa?

Senti minhas bochechas corarem um pouco.

— Ele filosofa um pouco. Tudo bem… muito.

Meu vizinho riu de novo, e nós dois pintamos em silêncio por um tempo. Depois, do nada, ele disse — sou Duncan.

Eu fiquei tão assustada, que minha mão sacudiu, causando minha banana já muito ruim parecer bem pior. Em mais de três meses, estas foram as primeiras palavras genuinamente civilizadas que alguém tinha falado para mim. — Eu… Eu sou Sydney. — Eu disse automaticamente.

— Eu sei — ele falou. — E prazer em conhecê—la, Sydney.

Minha mão começou a tremer, me forçando a assentar meu pincel. Eu tinha conseguido passar por meses de privação no escuro, suportei as encaradas e xingamentos dos meus colegas, e de alguma forma sobrevivi a passar mal por medicamentos sem uma lágrima. Mas este pequeno ato de gentileza, este bacana e comum gesto entre duas pessoas… bem, quase me quebrou quando nada mais tinha. Fez cair a ficha como quão longe eu estava de tudo — de Adrian, meus amigos, segurança, sanidade… tudo tinha partido. Eu estava aqui nesta prisão fortemente regulamentada de um mundo, onde cada movimento meu era governado pelas pessoas que queriam modificar a maneira como eu pensava. E não havia qualquer sinal de quando eu sairia daqui.

— Vamos, vamos — falou Duncan bruscamente. — Sem nada disso. Eles amam quando você chora.

Eu lutei contra as lágrimas e acenei apressadamente, conforme recuperava meu pincel. Eu coloquei—o de volta na tela, mal prestando atenção no que eu fazia. Duncan também continuou a pintar, seus olhos em seu trabalho, conforme falava mais.

— Você provavelmente terá melhorado e poderá comer quando der a hora de jantar. Mas não se empanturre. Seja inteligente sobre o que você come – e não se surpreenda se achar outra comida favorita sua no cardápio.

— Eles realmente sabem como insistir em algo, não sabem? – Eu resmunguei.

— Sim. Sim, eles sabem. – Mesmo sem olhá—lo, eu poderia dizer que ele estava sorrindo, porém sua voz logo se tornou séria novamente. – Você me lembra de uma pessoa que eu conheci aqui. Ela era minha amiga. Quando os poderosos chefões perceberam que éramos amigos, ela foi mandada para longe. Amigos são armaduras, e eles não gostam disso aqui. Você entende o que eu estou querendo te dizer?

— E—Eu acho que sim, — eu disse.

— Ótimo. Porque eu gostaria que fôssemos amigos.
O badalar sinalizava o som do fim da aula e Duncan começou a coletar suas coisas. Ele começou a ir para longe e eu me peguei pensando, “qual era o nome dela? Da sua amiga que foi levada?”

Ele pausou, e um olhar de dor cruzou seu rosto o que e imediatamente eu me arrependi de perguntar. – Chantal, — ele disse pelo menos, sua voz meramente um sussurro. – Eu não a vejo faz quase um ano.

Algo em seu tom de voz me fez pensar que ela deveria ser mais que uma amiga. Mas eu poderia pensar muito sobre quando eu processei o resto do que ele havia dito.

— Um ano…—Eu olhei novamente. – O que você fez para estar aqui?

Ele simplesmente me deu um sorriso triste. – Não esqueça sobre o que eu te falei Sydney. Sobre amizades.

Eu não esqueci. Quando ele não falou mais comigo pelo resto do dia e ao invés disso, comeu junto com os outros brilhantes e risonhos detentos, eu entendi. Ele não poderia demonstrar nenhum tratamento especial, não quando nossos rivais e os olhos invisíveis dos alquimistas estavam sempre nos observando. Mas suas palavras queimavam dentro de mim, dando—me forças. Amigos são armaduras. Eu gostaria que fôssemos amigos. Eu estava presa neste lugar horrível, cheio de tortura e controle mental… mas eu tinha um amigo – um amigo – mesmo que ninguém mais soubesse. Era revigorante, e esse conhecimento me ajudou a seguir para outra aula cheia de propaganda Moroi e me sustentou quando uma garota tropeçou em mim no corredor com um sussuro – meretriz de vampiros.

Nossa última aula não era uma aula de modo geral. Era uma sessão chamada “hora da comunicação,” e acontecia em um lugar que eles chamavam de o santuário, onde aparentemente cultos de domingo também aconteciam. Eu tomei nota disso porque eu teria uma forma de marcar o tempo. Era uma bela sala, com tetos altos e bancos de madeira. Sem janelas, porém. Aparentemente eles estavam realmente engajados em cortar todo tipo de forma de fuga – ou talvez isso fosse para simplesmente nos privar de ver o Sol e o céu de vez em quando.

Uma parede do santuário estava cheia de escrituras, e eu demorei em frente dela conforme meus companheiros detentos entravam na sala. Aqui, em tijolos pintados de branco, havia uma gravação, de todos aqueles que  passaram por aqui antes de mim, escrita por suas próprias mãos. Alguns eram pequenas e iam direto ao ponto: Perdoe—me, eu pequei. Outras, cheias de parágrafos, detalhando crimes conscientes e como seus autores clamavam por redenção. Umas estavam assinadas outras, anônimas.

— Nos chamamos aqui de Parede da Verdade, — disse Sheridan, andando até mim com uma prancheta. – Algumas vezes, as pessoas se sentem melhor após confessarem seus pecados nela. Talvez você gostaria de tentar?

— Mais tarde, talvez. – Eu disse.

Eu a segui para um círculo de cadeiras, colocados longe dos bancos. Todos estavam sentados e ela não comentou nada quando meus vizinhos arrastaram suas cadeiras para alguns centímetros mais longe. Hora da Comunicação, parecia um tipo de terapia grupal, e Sheridan se engajou em fazer com que o círculo falasse sobre o que todo mundo havia aprendido hoje. Emma foi a primeira a falar.

— Eu aprendi que apesar de ter progredido em restaurar minha alma, eu ainda tenho um longo caminho a seguir antes de atingir a perfeição. O pior pecado é desistir, eu irei seguir até que eu esteja completamente imersa na luz.

Duncan sentado ao lado dela, falou, — eu progredi na arte. Quando nós começamos a aula hoje, eu não achei que algo bom poderia sair dali. Eu, porém, estava errado.

Qualquer tentação que poderia ter me dado de sorrir foi cortada rapidamente quando a garota ao meu lado falou, — eu aprendi hoje o quão grata eu sou em não ser tão ruim quando alguém como Sydney. Questionar minhas ordens foi errado, mas pelo menos eu nunca deixei um deles colocar suas mãos profanas em mim.

Eu estremeci e esperei que Sheridan elogiasse a menina por sua virtude, mas ao invés disso, Sheridan fixou seus olhos frios na menina. – Você acha que isso é verdade, Hope? Você acha que tem razão em declarar quem é melhor e quem é pior entre vocês? Vocês estão todos aqui porque cometeram crimes graves, não tenham dúvidas disso. Sua insubordinação pode não ter resultado no mesmo resultado depravado de Sydney, mas se encontra em um lugar tão escuro quanto. Falhar em obedecer, falhar em atender àqueles que sabem mais… isso é um pecado em questão e você é tão culpada quanto ela.

Hope estava tão branca, era um questionamento do porquê alguém ainda não a acusou de ser um Strigoi. – E—Eu não quis—isso é—eu—

— Está bem claro que você não aprendeu o tanto que você pensa que aprendeu hoje, — disse Sheridan. – Acho que você precisa fazer alguns aprendizados posteriores. – e através de outro comando invisível, seus capangas apareceram e transportaram para fora uma protestante Hope. Eu me senti doente por dentro, e não tinha nada a ver com minha expiação de mais cedo. Eu me perguntei se ela iria passar pelo mesmo destino, apesar de sua culpa aqui ser por conta do orgulho, não a defesa de um Moroi.

Sheridan se voltou para mim agora. – E você Sydney? O que você aprendeu hoje?

Todos aqueles olhos se voltaram para mim. – Eu aprendi que eu tenho ainda muito que aprender.

— De fato você tem, — ela replicou solenemente. – Admitir isso é um grande passo para a redenção. Você gostaria de compartilhar sua história com os outros? Você acharia libertador.

Eu hesitei sob o peso daqueles olhares, incerta do que responder e me colocar em mais problemas. – eu… eu gostaria, — eu comecei, devagar. – mas eu ainda não acho que esteja preparada. Eu ainda estou muito sobrecarregada disso tudo.

— Isso é entendível. – ela disse, me fazendo cair em alívio. – Mas uma vez que você perceber o quanto todos cresceram aqui eu acho que você irá querer compartilhar. Você não pode superar seus pecados se você os mantiver trancados em si.

Havia um tom de aviso em sua voz que era impossível de não perceber, e eu respondi com um solene acenar. Misericordiosamente, após isso, ela se voltou para outra pessoa, e eu fui poupada. Eu passei o resto da hora escutando eles tagarelando sobre o quão incrível era o progresso que eles haviam conseguido comparado à escuridão em suas almas.  Eu me perguntei quantos deles diziam o que queriam dizer e quantos estavam só tentando se livrar dali como eu, e também pensei: se eles fizeram realmente tamanho progresso, então por que eles ainda estão aqui?

Após a hora da comunicação, nós fomos dispensados para a janta. Esperando em linha, eu escutei os outros falando sobre como o frango à parmegiana fora trocado por fettuccine Alfredo. Eu também escutei alguém falar que fettuccine Alfredo era a comida preferida de Hope. Quando ela se juntou ao final da fila, pálida e trêmula – e sendo evitada pelos outros – eu percebi o que havia acontecido.

Frango à parmegiana era minha comida de infância preferida – o que provavelmente as autoridades souberam pela minha família – e estava originalmente no cardápio para me punir e punir meu estômago enjoado. O ato de insubordinação de Hope superou o meu, porém, resultando em uma troca de jantar de último minuto. Os alquimistas estavam realmente sérios em reforçar suas questões.

O rosto miserável de Hope confirmava—se conforme ela se sentava sozinha em uma das mesas vazias e observava sua comida sem tocá—la. Apesar de estar com muito sal para mim, eu estava pelo menos no ponto onde eu podia comer alguns dos lados mais suaves e o leite. Assistindo ela então, esquecida como eu, me abateu profundamente. Mais cedo naquele dia eu havia visto ela no meio da vida social com os outros. Não ela foi afastada, simplesmente assim. Vendo uma oportunidade, eu comecei a levantar, pretendendo me unir a ela. Do outro lado da sala, Duncan, que estava sentado e conversando prazerosamente com um outro grupo, chamou minha atenção e me deu uma forte negação com a cabeça. Eu vacilei por alguns instantes e sentei novamente, me sentindo envergonhada e covarde por não ficar junto com outra pária.

— Ela não teria te agradecido por isso, — ele murmurou para mim após o jantar. Nós estávamos na instalação da pequena livraria, com permissão para escolher um livro para levar para a leitura de cabeceira. Todos os livros eram de não—ficção, reforçando os princípios dos Alquimistas. – Essas coisas acontecem, e ela estará junta aos outros amanhã. Você indo até ela poderia ter chamado a atenção e talvez demorado essa reintegração. Pior, se ela tivesse agradecido a você, os poderosos chefões poderiam ter percebido e pensado que as problemáticas estavam se agrupando.

Ele selecionou um livro de forma meio aleatória e saiu antes que eu pudesse responder. Eu queria perguntá—lo a que ponto eu seria aceita pelos outros – ou se eu seria algum dia aceita. Claramente todos passaram pelo que passei em algum momento. E claramente eles se engajaram e entraram no mundo social dos detentos.

De volta ao meu quarto, Emma deixou claro que não haveria avanços com ela. – Eu estou progredindo bem, — ela disse afetadamente. – Eu não preciso que você arruíne tudo isso com suas perversões. Não interaja comigo. Nem mesmo me olhe se você puder fazer isso.
Com isso, ela pegou seu livro e deitou na cama de costas para mim propositalmente. Eu não ligava, contudo. Não era diferente de nenhuma outra atitude que eu recebi hoje, e agora eu tenho uma preocupação muito maior em minha mente. Eu quase não havia me permitido pensar sobre isso até agora. Tiveram provações e sofrimentos demais para eu superar, mas agora nós estamos aqui. O final do dia. Uma vez que eu estava de pijamas (idêntico ao dia da purificação) e já tinha escovado os dentes, eu fui para cama com uma quase animação constrangida.

Eu iria dormir logo. E eu iria sonhar com Adrian.

A compreensão esteve rodando no fundo da minha mente, me sustentando a superar meus piores momentos. Foi para isso que eu lutei, o motivo de eu ter aturado as indignidades de dia. Eu estava fora da cela e livre do gás. Agora eu poderia dormir normalmente e sonhar com ele, fornecida pela minha ansiedade que não me manteria acordada.

Conforme percebi, isso não seria um problema. Após de uma hora de leitura, o badalar soou e as luzes se desligaram automaticamente. Porta do quarto era uma pequena porta de correr, que não chegava totalmente à parede, permitindo que um fio de luz em frente que eu estava feliz em ver após meses de ficar no total escuro. Eu escutei um click, como um parafuso que caiu, que mantinha a porta trancada no lugar. Eu me aconcheguei nas cobertas, cheia de animação… e de repente comecei a me sentir cansada. Muito cansada. Um minuto, eu estava imaginando o que dizer ao Adrian; no outro, eu mal poderia manter meus olhos abertos.

Eu lutei contra, forçando minha mente a se manter focada, mas era uma pesada e forte neblina que estava descendo em mim, pesando em mim e tomando minha mente. Era uma sensação que eu estava já muito familiarizada.

— Não… – eu tentei dizer. Eu não estava livre do gás. Eles ainda estavam regulando nosso sono, provavelmente para garantirem que não haja conivências após a hora. Eu estava exausta demais para pensar sobre. Um denso sono logo se apossou de mim, me puxando para a escuridão que não possuía sonhos.

E não havia chances de escapar.