Silver Shadows será lançado dia 29 de julho de 2014.
Capítulo 3 – Sydney
EU PODERIA PERDOAR OS ALQUIMISTAS com suas táticas de ajustar a visão à luz porque uma vez que eu estava apta a ver razoavelmente bem novamente, eles me ofereceram um banho.A parede de minha cela abriu e uma jovem mulher me cumprimentou, parecia ter 5 anos a mais que eu. Ela estava vestida com o tipo de terno inteligente que os Alquimistas amam, com seus cabelos negros presos de forma firme em uma elegante trança francesa. Sua maquiagem era impecável, e ela cheirava a lavanda.
O lírio dourado em sua bochecha brilhou. Minha visão ainda não estava com sua total capacidade, mas estando perto dela, fiquei totalmente ciente de meu atual estado; não tinha tomado um banho de verdade há tempos e que minha troca de roupa era para pouco mais que um trapo que você usaria para esfregar o chão.
“Meu nome é Sheridan,” ela disse friamente, não elaborando mais do que isso, se esse era seu prenome ou sobrenome. Eu me perguntei se talvez ela fosse uma das pessoas por trás da voz em minha cela. Eu tinha quase certeza de que eles trabalhavam de forma rotatória, usando algum tipo de programa de computador para sintetizar a voz e assim, ela soaria sempre como a mesma. “Eu sou a atual diretora por aqui. Siga-me, por favor.”
Ela se voltou para o corredor em seus saltos de couro e eu a segui sem palavras, não confiando em mim mesma para dizer algo, ainda. Apesar de que eu tivesse certa liberdade de me movimentar em minha cela, eu também possuía certas limitações e não havia feito muitas caminhadas. Meus músculos rígidos protestaram por conta das mudanças e eu me movimentei lentamente atrás dela, um agonizante pé descalço por vez. Nós passamos por inúmeras portas sem marcas pelo caminho e eu me questionei sobre o que elas possuíam. Mais celas escuras e vozes metálicas? Nada parecia estar marcado como uma saída, o que era a minha preocupação imediata. Não haviam também janelas ou alguma indicação de como sair desse lugar.
Sheridan chegou ao elevador bem mais rápido que eu e esperou pacientemente por mim. Quando nós duas estávamos dentro, nós subimos um andar e emergimos em uma parede estéril similar as outras. Uma porta dava para o que parecia com um banheiro de academia, com azulejos pelo chão e chuveiros comunitários. Sheridan apontou para uma tenda que fornecia sabão e shampoo.
“A água ficará ligada durante cinco minutos, assim que você a abrir,” ela avisou. “Então, use-a sabiamente. Haverá roupas esperando por você quando terminar. Eu estarei no corredor.”
Ela saiu do vestiário, de forma a demonstrar uma oferta de privacidade, mas eu sabia sem dúvidas que eu ainda estava sendo assistida. Eu perdi todas as ilusões de modéstia a partir do momento em que entrei aqui. Eu comecei a me despir do trapo quando eu notei um espelho na parede ao meu lado, e mais importante, quem estava olhando de volta nele.
Eu sabia que eu estava em um estado ruim, mas vendo a realidade disso cara a cara era uma experiência completamente diferente. A primeira coisa que me prendeu foi o quanto de peso que eu havia perdido – irônico, considerando minha obsessão de longa data com permanecer magra. Eu certamente atingi a meta, atingi e passei totalmente dela. Eu passei de magra a desnutrida e, parecia mais destacada não somente por conta do jeito que o trapo se pendurava em meu corpo magro, mas também pela magreza de meu rosto. Aquele olhar vazio era intensificado pelas sombras escuras embaixo de meus olhos e pela palidez no resto de mim por conta da falta de sol. Parecia que eu havia acabado de me recuperar de uma doença com risco de morte.
Meu cabelo estava em um péssimo estado também. Qualquer tipo de trabalho decente que eu pensei que estava fazendo ao lavar o cabelo no escuro se comprovou uma piada. Os fios estavam fracos e oleosos, suspensos em tristes e bagunçados aglomerados. Não havia dúvidas de que eu continuava loira, mas a cor de meu cabelo estava bruta, em um estado bem mais escuro, por conta do suor e da sujeira e, esfregar com uma toalhinha não faria isso tudo sair. Adrian sempre disse que meu cabelo era como ouro e implicava comigo dizendo que eu tinha uma auréola. O que ele diria agora?
Adrian não me ama pelo meu cabelo, eu pensei, observando meus olhos. Eles estavam regulados e castanhos. Ainda os mesmos. Isso é tudo exterior. Minha alma, minha aura, minha pessoa… essas são imutáveis.
Resolvida, eu comecei a me virar do reflexo quando eu percebi algo mais. Meu cabelo estava mais longo que a última que eu o vi, pouco maior que 3cm. Apesar de eu estar ciente de que minhas pernas precisavam ser raspadas, eu não tinha senso nenhum de como meu cabelo estava, na cela. Agora, eu tentei lembrar do quão rápido ele crescia. Mais ou menos 1,5cm por mês? Aquilo sugeria no mínimo dois meses, talvez três se eu colocar na conta a pobre dieta que tive. O choque foi mais horrível que minha aparência.
Três meses! Faz três meses que eles me pegaram, me drogando no escuro.
O que aconteceu com Adrian? Jill? Eddie? Uma vida poderia ter passado para eles nestes três meses. Estariam eles seguros e bem? Será que eles ainda estão em Palm Springs? Um novo pânico cresceu em mim e eu, ferrenhamente, tentei acalmá-lo. Sim, muito tempo passou, mas eu não poderia deixar a realidade me afetar. Os alquimistas estavam já estavam fazendo jogos mentais comigo o suficiente sem que eu os ajude.
Mas ainda sim… Três meses.
Eu me livrei de minhas desculpas esfarrapadas por roupa e entrei na tenda, fechando a cortina atrás de mim. Quando eu liguei a água e veio água quente, era tudo o que eu não poderia fazer, abaixar no chão em êxtase. Eu me senti tão fria pelos últimos três meses e agora aqui estava, todo calor que eu queria. Bem, não todo calor. Conforme eu ligava a temperatura em uma explosão total, eu secretamente desejei que eu tivesse uma banheira e assim eu mergulharia nesse calor. Ainda, esse chuveiro sozinho era glorioso, e eu fechei meus olhos, suspirando com meu primeiro contentamento experimentado em tanto tempo.
Então, lembrando-me do aviso de Sheridan, eu abri meus olhos e encontrei o shampoo. Eu o apliquei três vezes, esperando que fosse o suficiente para tirar o pior da sujeira. Provavelmente levaria mais alguns banhos para ficar totalmente limpo novamente. Após isso, eu ensaboei meu corpo com o sabonete até estar esfoliada e rosada e cheirando vagamente a antisséptico, então fiquei parada embaixo da água fumegante até que ela desligasse.
Quando saí, eu encontrei roupas dobradas ordenadamente em um banco. Elas eram uniformes básicos, calças soltas e uma camisa que você veria pessoas que trabalham hospitais – ou melhor encaixando -, prisioneiros estariam vestindo. Marrons, claro, já que os alquimistas ainda possuíam seus níveis de gostos para manter. Eles também me deram meias e um par de sapatos marrons, eles estavam entre algo como sapatos de viagem e chinelos e eu não estava surpresa de ver que eles eram exatamente do meu tamanho. Um pente completava o conjunto de presente, nada extravagante, mas o suficiente para ter uma aparência limpa. O reflexo que me foi revelado ainda não parecia bom, exatamente, mas definitivamente tinha melhorado.“Sentindo-se melhor?” perguntou Sheridan, com um sorriso que não atingia seus olhos. Qualquer tipo de avanço que eu consegui com minha aparência pareciam nada perto de sua aparência estilosa, mas me consolei com o pensamento de que eu ainda tinha respeito próprio e a habilidade de pensar por mim mesma.
“Sim”, Eu disse. “Obrigada.”
“Você irá querer isso também,” ela disse, me dando um pequeno cartão de plástico. Tinha meu nome, um código de barras e uma foto de meus dias melhores. Um pequeno clipe de plástico na parte de trás permitia que eu o prendesse em meu colarinho.
“Nós estamos tão felizes que você escolheu o caminho da redenção. Verdadeiramente. Eu espero mais a frente lhe ajudar em sua jornada de volta para a luz.”
O elevador nos levou para outro piso e uma nova sala, essa com um tatuador e uma mesa. Todo e qualquer conforto que eu consegui com o banho quente se esvaiu. Eles irão me re-tatuar? Claro que iriam. Por que ficar só na tortura física e psicológica quando você pode adicionar o controle mágico?
“Nós só queremos retocar,” Sheridan explicou, animada. “Já que já faz tempo.”
Fazia menos de um ano, na verdade, mas eu sabia o que ela e os outros queriam fazer. As tatuagens dos alquimistas continham uma tinta com sangue de vampiro encantado tecidos com feitiços de compulsão para reforçar a lealdade. Claro, a minha não havia funcionado. Mágico ou não, compulsão era basicamente uma sugestão muito forte, uma que poderia ser anulada se o desejo fosse forte o suficiente. Eles provavelmente iriam redobrar a dose usual esperando me tornar mais complacente, assim eu aceitaria qualquer retórica que eles iriam me submeter.
O que eles não sabiam era que eu me preparei em alguns passos para me proteger contra essa coisa. Antes de ter sido presa, eu criei uma tinta por mim mesma – uma feita de magia humana, algo igualmente apavorante para os alquimistas. De todas as informações que eu peguei, aquela mágica anulava qualquer compulsão que se encontrasse nessa tinta derivada de vampiros. A parte ruim era a que eu não tive a chance de injetar aquela tinta em minha tatuagem, para assim eu ter uma camada de proteção extra. O que eu estava contando agora era a reivindicação de uma bruxa que eu conheci, o fato de eu praticar mágica poderia me proteger. De acordo com ela, dominar mágica humana preenchia meu sangue e aquilo poderia reagir contra o sangue vampiro na tatuagem alquimista. Claro, eu não tive a chance de praticar muitos feitiços em um confinamento solitário e poderia agora esperar que o que eu já fiz tenha deixado suas marcas permanentes em mim.
“Seja uma de nós novamente”, Sheridan disse, assim que o tatuador picou a agulha ao lado de meu rosto. “Renuncie todos os seus pecados e busque a expiação. Junte-se a nossa batalha para manter os humanos livres da mácula que são os vampiros e os dhampirs. Eles são criaturas malignas e não possuem lugar na ordem natural.”
Eu fiquei tensa e não tinha nada a ver com a perfuração da agulha em minha pele. E se o que me disseram estivesse errado? E se o uso da mágica não me protegesse? E se, até agora, aquela tinta estivesse trabalhando em seu curso pelo meu corpo, usando seu traiçoeiro poder para alterar meus pensamentos? Esse era um dos meus maiores medos, ter minha mente adulterada. Eu de repente tive dificuldade de respirar assim que a ideia me incapacitou com o terror, fazendo com que o tatuador pausasse e me questionasse se eu estava sentindo dor. Engolindo nada, eu sacudi minha cabeça e deixei que ele continuasse, tentando esconder meu pânico.
Quando ele terminou, eu não achei que eu estava diferente. Eu ainda amava Adrian e todos os meus amigos Morois e dhampirs. Aquilo era tudo? Ou será que a tinta demorava para ter efeito? E se meu treino com mágica não me protegesse, será que minha força de vontade seria o suficiente para me salvar? Claro, eu ultrapassei a prévia rodada para retocar, mas será que eu faria novamente?
Sheridan me escoltou para fora quando o tatuador me liberou, conversando como se eu estivesse em um SPA e não sujeita a uma tentativa de controle mental. “Eu sempre me sinto revigorada depois disso, você não?”
Era meio que inacreditável para mim, o fato de ela poder agir tão casualmente, como se fossemos amigas que saíram para caminhar, quando ela e os outros haviam me deixado passando fome e quase nua em uma cela escura por meses. Ela esperava que eu estivesse tão grata pelo banho e pelas roupas quentes a ponto de perdoar todo o resto? Sim, eu percebi momentos depois, ela claramente gostaria. Havia uma razoável quantidade de gente que emergiram daquela escuridão e estavam implorando por tudo e qualquer coisa para retornar ao seu conforto ordinário.
Conforme nós íamos para outro piso acima, eu percebi que minha cabeça se sentia mais clara e meus sentidos mais aguçados do que estavam em meses.
Provavelmente por uma boa razão. Eles não estavam me sujeitando ao gás, não com Sheridan por perto, então esse era como o primeiro ar puro que eu respirava nesse tempo todo. Até agora, eu não havia percebido a absurda diferença que tinha. Adrian poderia provavelmente me encontrar nos sonhos, mas isso teria que esperar. No mínimo, eu poderia praticar mágica novamente, agora que meu sistema não estava mais poluído e, esperançosamente, lutar contra qualquer efeito da tatuagem. Achar um momento sem atenção para fazer isso parece ser mais fácil de se dizer do que de se fazer, aliás.
O próximo corredor abriu, revelando estreitas camas dentro. Eu continuei rastreando tudo que passávamos cada piso e sala, procurando por uma forma de sair que parecia não existir. Sheridan me deixou dentro de um quarto com o número 8 escrito do lado de fora.
“Eu sempre achei que o número oito era um número de sorte,” ela me disse. “Rima com ótimo” (eight – great) ela apontou uma das duas camas na sala para mim. “Essa é a sua”.
Por um momento, eu estava tão inerte com a ideia de ter uma cama para observar maiores implicações. Não que ela parecesse muito confortável – mas ainda sim. Estava longe do que era o chão de minha cela, mesmo com o colchão duro e chapas finas feita de um material igual ao meu antigo trapo. Eu poderia dormir nessa cama, sem questionamentos. Eu poderia dormir e sonhar com Adrian…
“Eu tenho uma colega de quarto?” Eu perguntei, finalmente notando a outra cama. Era difícil de dizer se o quarto já estava ocupado, já que não havia sinais de utensílios pessoais.
“Sim, seu nome é Emma. Você poderá aprender muito com ela. Nós estamos muito orgulhosos de seu progresso.” Sheridan saiu da sala, então aparentemente nós não iríamos nos prolongar. “Vamos lá – você pode conhecê-la agora. E os outros.”
Um corredor ramificado a partir deste nos levou para o que pareciam salas de aula vazias. Conforme nós nos avançávamos para o final do corredor, eu fiquei ciente de algo que meus sentidos entorpecidos não experimentavam já há algum tempo: o cheiro de comida. Comida verdadeira. Sheridan estava nos levando à cafeteria. Uma fome que eu nunca imaginaria que eu tivesse possuiu meu estômago apertado com uma quase dolorosa pontada. Eu havia me adaptado tão bem a pobre dieta da prisão que eu levei meu corpo a se privar do estado considerado normal. Só agora que eu percebi o quanto ansiava por algo que não fosse cereal morno.
A cafeteria, tal como era, era só uma fração do tamanho da Amberwood. Possuía cinco mesas, três estavam ocupadas com pessoas vestidas com largos uniformes iguais ao meu. Essas, pelo que pareciam, eram minhas colegas prisioneiras, todas com o lírio dourado. Havia doze pessoas, e pelo que parecia eu era a décima terceira sortuda. Eu me questionei sobre o que Sheridan poderia pensar disso. Os outros detentos eram de diferentes idades, sexos e etnias, apesar de achar que todos eram americanos. Em algumas prisões, fazer com que você se sentisse um forasteiro era parte do processo. Já que aqui o objetivo era de nos trazer de volta ao campo, eles iriam preferir nos colocar com aqueles possuíam a mesma cultura e língua – aqueles que aspiravam ser iguais, se nós assim tentássemos o suficiente. Observando-os, me perguntei sobre suas histórias, se algum deles poderiam se tornar aliados.
“Essa é Baxter,” disse Sheridan, assentindo em direção a um homem de rosto severo em branco. Ele estava de pé em frente à uma janela que dava a visão de cima da área de jantar e presumidamente era dali que a comida vinha. “Sua comida é deliciosa. Eu sei que você vai amar, E essa é Addison. Ela supervisiona o almoço e sua aula de artes.”
Não teria ficado claro para mim se Adisson era “ela”, se não fosse pela introdução. Ela estava na casa de seus quarenta, ou no início dos cinquenta, vestindo um terno mais formalista e menos estiloso do que o de Sheridan, e estava parada contra a parede com olhos afiados. Ela mantinha seus cabelos presos perto de sua cabeça e possuía um rosto fortemente angular, o que parecia estar em desacordo com o fato dela estar mascando chiclete. O lírio dourado era seu único ornamento. Ela era de longe a última pessoa que eu esperaria ter como professora de artes, o que me levou a outra compreensão.“Eu tenho uma aula de artes?”
“Sim, é claro,” disse Sheridan. “Criatividade é muito terapêutica para reparar uma alma.”
Havia um murmúrio leve quando entramos, um que parou completamente quando os outros nos notaram. Todos os olhares, dos detentos e dos supervisores, giraram em minha direção. E nenhum deles pareciam amigáveis.
Sheridan limpou a garganta, como se já não fossemos o centro das atenções. “Pessoal? Nós temos um novo convidado que eu gostaria de apresentar a vocês. Esta é Sydney. Sydney acabou de sair de seu tempo de reflexão e está ansiosa para se juntar ao resto vocês em suas jornadas à purificação.”Demorou um segundo para eu perceber que “tempo de reflexão” deveria ser o que eles chamam meu solitário confinamento no escuro.
“Eu sei que será difícil para vocês aceita-la,” continuou Sheridan docemente. “E eu não os culpo. Ela não apenas está muito, muito imersa em escuridão, mas como também foi tentada da maneira mais profana: através do contato íntimo e romântico com vampiros. Eu entendo se vocês não quiserem interagir com ela e arriscarem se macular, mas eu espero que pelo menos a mantenham em suas preces.” Sheridan virou aquele sorriso mecânico para mim “Eu a verei mais tarde na hora da comunicação.”
Eu estava nervosa e difícil desde que saíra da cela, mas assim que ela se virou para sair, pânico e medo de um novo tipo me atingiram. “Espera. O que eu devo fazer?”
“Como, é claro.” Ela me olhou da cabeça aos pés. “A não ser que esteja preocupada com o peso. É com você.”
Ela me deixou ali na silenciosa cafeteria, com todos aqueles olhos me encarando. Eu havia saído de um inferno para outro. Eu nunca havia me sentindo tão autoconsciente em minha vida, sendo exposta a esses estranhos e tendo meus segredos revelados. Freneticamente, comecei a pensar em um curso de ação. Qualquer coisa para me afastar dos olhares e um passo mais próximo de sair daqui e voltar para Adrian. Coma, Sheridan disse. Como eu faria isso? Não era como Amberwood, onde a secretaria atribuía aos alunos veteranos que ajudassem os novos. Na verdade, Sheridan havia saído de seu caminho para todos exceto desencoraja-los a me ajudar. Era uma tática brilhante, eu supus, uma feita para que tentasse desesperadamente pela aprovação dos outros e talvez ver em alguém como Sheridan como meu único “amigo”.
Pensar pela lógica dos Alquimistas me acalmou. Lógica e adivinhar quebra-cabeças era algo com as quais eu poderia lidar. Okay. Se eles queriam eu me provesse, então que seja. Olhei para longe dos outros detentos e me dirigi diretamente para a janela, onde o chefe Baxter ainda usava uma careta. Parei a sua frente com expectativa, esperando ser o suficiente. Não foi.
“Hm, com licença,” eu disse suavemente. “Eu posso…” qual refeição Sheridan disse que era? Havia perdido a noção do tempo na solitária. “…almoçar?”
Ele grunhiu em resposta e se virou, fazendo algo longe das minhas vistas. Quando ele voltou para mim, segurava uma bandeja modestamente cheia.
“Obrigada” disse tirando-a dele. Conforme eu fiz, minha mão roço uma de suas enluvadas. Ele exclamou em surpresa e um olhar de desgosto cruzou suas feições. Cautelosamente, ele retirou a luva que eu tocara, jogou fora, e colocou uma nova.
Eu fiquei boquiaberta por um momento, e então me virei com minha bandeja. Eu nem ao menos tentei me relacionar com os outros e ao invés me sentei em uma das mesas vazias. Muitos deles continuaram me encarando, mas alguns voltaram as suas refeições e sussurros. Tentei não pensar no que eles falavam de mim ao invés me foquei na minha comida. Havia uma pequena porção de espaguete com molho vermelho parecendo ter vindo de uma lata, uma banana e um litro de leite de 2 por cento. Antes de vir para cá, nunca teria tocado isso em minha vida cotidiana. Eu faria um discurso sobre a gordura contida no leite e sobre como as bananas eram uma das frutas com as maiores taxas de açúcar. Eu teria questionado a qualidade da carne e os conservantes no molho vermelho.
Todas essas manias haviam se esvaído, agora. Isso era comida. Comida verdadeira. Não aqueles cereais sem sabor e sem consistência. Eu comi a banana primeiro, quase sem parar para respirar, então tive que me segurar para não acabar com o leite com um gole. Alguma coisa me dizia que Baxter não deixava repetir. Eu estava mais cautelosa com o espaguete, apenas porque a lógica me avisou de que meu estômago não poderia reagir muito bem à mudança abrupta de dieta. Meu estômago discordou e quis que eu me empanturrasse e lambesse a bandeja. Após o que eu estive comendo esses últimos meses, este espaguete parecia ter vindo de algum restaurante gourmet da Itália. Eu fui salva da tentação de comer tudo quando suaves badaladas soaram cinco minutos depois. Como se fossem uma pessoa, todos os outros detentos se levantaram e carregaram suas bandejas para uma grande caixa monitorada por Addison. Eles limparam os restos de comida da bandeja e as empilharam ordenadamente em um carrinho perto. Eu corri para fazer o mesmo e então os segui para fora da cafeteria.
Após a reação de Baxter ao tocar minha mão, eu tentei poupar os detentos o trabalho de estar próximos de mim e mantive uma distância respeitosa. Nós nos apertamos no corredor estreito, entretanto, e as manobras de alguns deles para evitarem se esbarrar em mim não seria cômico em nenhuma circunstância. Os que não estavam próximos a mim saíram de seus caminhos para evitar contato visual e fingir que eu não existo. Esses forçados a evitar contato fixaram olhares frios em mim, e eu fiquei chocada em ouvir um sussurrar “Vadia”.
Eu me preparei para muitas coisas e eu esperava ser chamada de vários nomes, mas este me pegou de guarda baixa. Eu estava surpresa o quanto incomodou.
Eu segui a multidão até uma sala e esperei até que todos estivessem sentados nas carteiras, para que eu não escolhesse a errada. Quando eu finalmente escolhi um assento vazio, as duas pessoas mais próximas de mim moveram suas carteiras para longe. Eles provavelmente eram duas vezes a minha idade, novamente dando aquela torcida ainda que triste, qualidade cômica. O Alquimista de terno liderando a aula ergue os olhos rapidamente de sua mesa ao ouvir o movimento.
“Elsa, Stuart. Suas carteiras não são ai.”
Mortificados, os dois arrastaram suas carteiras de volta para suas fileiras como se o amor dos Alquimistas pela ordem superasse o medo do mal. Pelos olhares que Elsa e Stuart me lançaram, entretanto, era claro que eles estavam agora adicionando a reprimenda à lista de pecados a qual eu era culpada.
O nome do instrutor era Harrison, novamente me fazendo indagar se era o primeiro ou o último. Ele era um velho Alquimista com cabelos ralos brancos e voz anasalada que eu logo aprendi estar aqui para nos ensinar sobre assuntos correntes. Por um momento, eu me animei, achando que teria algum vislumbre do mundo lá fora. Logo ficou claro para mim que isso era um olhar altamente especializado em assuntos correntes.
“O que estamos vendo?” ele perguntou quando uma imagem macabra de duas garotas com suas gargantas rasgadas apareceu numa tela gigante na frente da sala. Muitas mãos ergueram-se, e ele escolheu aquele que subiu primeiro. “Emma?”
“Ataque Strigoi, senhor.”
Eu sabia disso e estava mais interessada em Emma, minha colega de quarto. Ela tinha a idade próxima da minha e sentou tão anormalmente reta em sua carteira que eu tinha certeza de que ela teria problemas nas costas mais tarde.
“Duas garotas mortas do lado de fora de uma boate em São Petersburgo,” Harrison confirmou. “Nenhuma delas tinha vinte ainda.” A imagem mudou para outra ainda mais macabra, essa de um homem mais velho que obviamente tivera seu sangue drenado. “Budapest.” Então outra imagem. “Caracas.” Outra imagem. “Nova Scotia.” Ele desligou o projetor e passou a andar em frente a sala. “Eu gostaria de dizer essas são do ano passado. Ou até mesmo do mês passado. Mas temo não ser essa a verdade. Alguém quer arriscar um palpite de quando elas foram tiradas?”A mão de Emma se ergueu. “Semana passada, senhor?”
“Correto, Emma. Estudos mostram que ataques de Strigois não tem diminuído desde esta época ano passado. Há algumas evidências que podem estar aumentando. Porque vocês acham isso?”
“Por que os Guardiões não estão caçando-os como deveriam estar?” Essa, novamente, era Emma. Ai meu Deus, eu pensei, eu divido o quarto com a Sydney Sage da reeducação.
“Essa é certamente uma teoria,” disse Harrison. “Guardiões estão mais interessados em proteger os Moroi passivamente a perseguir os Strigois para o bem de todos nós. Na verdade, quando sugestões foram feitas para aumentarem seus números recrutando-os mais novos, os Moroi egoisticamente recusaram. Eles aparentemente têm o suficiente para se considerarem salvos e não sentem a necessidade de ajudar aos outros.”
Eu tive que morder minha língua. Eu sabia de um fato que não era verdadeiro. Os Moroi estavam sofrendo baixo números de guardiões porque havia poucos dhampirs. Dhampirs não podiam se reproduzir com outros dhampirs. Eles haviam nascido numa época que Moroi e humanos se misturavam livremente, e agora sua ração continuava através da mistura de Moroi e dhampirs, que sempre resultava em crianças dhampir. Era um mistério genético até mesmo para os Alquimistas. Eu sabia pelos meus amigos que a idade dos Guardiões era um assunto quente no momento, um que a rainha Moroi Vasilisa, era dedicada a. Ela estava lutando para que os dhampirs mantivessem seu pleno direito de se tornarem guardiões até que tivesse dezoito anos, não por egoísmo, mas porque ela achava que eles mereciam a chance de ter sua adolescência antes de saírem e arriscarem suas vidas.
Eu sabia que agora não era a hora de compartilhar meu pensamento, entretanto. Mesmo que eles soubessem, ninguém queria ouvir, e eu não poderia arriscar contar. Eu precisava andar na linha e atuar como se estivesse a caminho da redenção a fim de conseguir o máximo de privilégios que eu pudesse, por mais doloroso que fosse ouvir Harrison seguir seu discurso.
“Outro fator pode ser que os próprios Moroi estão auxiliando a aumentar a população de Strigoi. Se você perguntar a eles, a maioria irá alegar que eles não querem nada com os Strigoi. Mas podemos mesmo confiar nisso, quando eles podem facilmente se transformar nesses monstros vis? É praticamente um estado de evolução para os Moroi. Eles vivem ‘normalmente’ com crianças e trabalhos, então quando a idade começa a se aproximar… bem, que conveniente tomar um pouco mais das vítimas dispostas, ‘alegando’ ter sido um acidente… e puf!” O número de aspas no ar que Harrison usou enquanto falava era realmente surpreendente para acompanhar. “Eles se transformam em Strigoi, imortais e intocáveis. Como não? Morois não são criaturas com força de vontade, não como os humanos. Como essas criaturas podem resistir ao desejo de vida eterna?” Harrison balançou a cabeça em uma tristeza simulada. “Por isso, eu temo, é que a população de Strigoi não tem caído. Nossos tão chamados aliados não estão exatamente ajudando.”
“Onde está a sua prova?”
A voz dissidente foi um choque para todos no ambiente – especialmente quando eles viram que havia vindo de mim. Eu queria me bater e retirar as palavras de volta. Eu mal havia saído da prisão por duas horas! Mas era tarde demais, e as palavras haviam saído. Meu próprio interesse nos Moroi de lado, eu não conseguia aguentar quando as pessoas postulavam especulação e sensacionalismo como fatos. Os Alquimistas deveria saber, tendo me treinado na arte da lógica.
Todos os olhares caíram em mim novamente, e Harrison veio até a frente da minha carteira. “É Sydney, correto? Encantador tê-la em sala tão pouco após sair de seu tempo de reflexão. É especialmente encantador ouvi-la falar tão cedo a se juntar a nós. A maioria dos novatos espera seu tempo. Agora… você poderia ter a gentileza de repetir o que acabou de dizer?”
Eu engoli, novamente me odiando por ter falado, mas era tarde demais para mudar as coisas. “Eu perguntei onde estavam as suas provas, senhor. Seus pontos são constrangedores e até soam razoáveis, mas se não temos provas para sustenta-los, mas não somos mais do que monstros nós mesmos, espalhando mentiras e propaganda.”
Houve uma inspiração coletiva do restante dos detentos, e Harrison apertou os olhos. “Eu vejo. Bem, então, você tem alguma explicação sustentada por ‘provas’?” Mais aspas no ar.Porque, porque, porque eu não podia simplesmente ficar quieta?
“Bem, senhor,” eu comecei suavemente. “Mesmo se houvesse o tanto de dhampiros guardiões quanto há de Strigois, eles não seriam equilibrados. Strigoi são quase sempre mais fortes e mais rápidos, e enquanto alguns dhampirs façam mesmo algumas mortes sozinhas, frequentemente eles precisam caçar Strigoi em grupos. Quando você olha para a real população dhampir, você vê que não há comparação a população Strigoi. Dhampiros excedem em números. Eles não são capazes de se reproduzirem facilmente como os Moroi e humanos – e Strigoi, se você quiser chamar dessa forma.”
“Bem, do que eu entendo,” disse Harrison, “você é uma expert em reprodução Moroi. Talvez você pessoalmente esteja interessada em aumentar o número dos dhampirs você mesma, sim?”
Risadinhas soaram pela sala, e eu me vi corando apesar de mim mesma. “Essa não era a minha intenção aqui, senhor, de maneira alguma. Só estou dizendo, se nós vamos analisar criticamente as razões –“
“Sydney,” ele interrompeu, “temo que nós não iremos analisar nada, já que está óbvio de que você não está totalmente pronto para participar com o resto de nós.”
Meu coração parou. Não. Não, não, não. Eles não podiam me mandar de volta para a escuridão, não quando eu havia acabado de sair.
“Senhor –“
“Eu acho,” ele continuou, “que um pouco de purificação pode deixa-la melhor para participar com o resto de nós.”
Eu não tinha ideia do que isso significava, mas dois homens corpulentos em ternos subitamente entraram na sala, que deveria estar sob vigilância. Tentei outro protesto para Harrison, mas os homens rapidamente me escoltaram para fora da sala antes que eu pudesse fazer um apelo ao meu instrutor. Então eu tentei argumentar com os escudeiros ao invés, falando sobre como claramente ouve um mal entendido e como se eles apenas me dessem uma segunda chance, resolveríamos isso. Eles se mantiveram quietos e inexpressivos, entretanto, e meu estômago caiu ao prospecto de ser trancada novamente. Eu havia sido tão condescendente sobre o que eu via ser jogos mentais com conforto dos Alquimistas que eu não havia percebido o quanto havia me tornado dependente deles. O pensamento de ser despida da minha dignidade e necessidades básicas novamente era quase demais para suportar.
Mas eles apenas me levaram um andar abaixo desta vez, não de volta ao nível das celas. E a sala a qual eles me levaram era dolorosamente iluminada, com um grande monitor na frente da sala e uma grande poltrona com algemas. Sheridan estava perto, parecendo serena como sempre… e ela brandia uma agulha.
Não era uma agulha de tatuador também. Era uma coisa grande e de aparência perversa, o tipo que você usa para injeções médicas. “Sydney,” ela disse docemente, enquanto os homens me prendiam à poltrona. “Que vergonha eu ter que vê-la tão cedo.”