Capítulo 1
Adrian
A vida de casado não era o que eu esperava.
Não me entenda errado. Eu não tenho dúvidas sobre a mulher com qual me casei. Na verdade, eu a amo mais do que poderia imaginar que seria possível amar uma pessoa. Mas a realidade na qual vivemos? Bem, vamos apenas dizer que eu nunca imaginei de verdade algo assim também. Em todas as nossas fantasias anteriores, nós sonhávamos com locais exóticos e, mais importante, liberdade. Ficar confinado em um pequeno conjunto de cômodos nunca tinha sido parte de nenhum plano de fuga romântico, muito menos uma escapada romântica.
Mas eu nunca fui de fugir de um desafio.
– O que é isso? – Perguntou Sydney, assustada.
– Feliz aniversário – eu disse.
Ela tinha acabado de terminar uma ducha e se vestido e agora estava em pé no batente da porta, encarando ao redor da transformação que eu que feito na nossa sala de estar. Não tinha sido fácil fazer tanto em tão pouco tempo. Sydney era uma pessoa eficiente, e isso se estendias a duchas também. Eu? Você poderia ter conduzido completas demolições e reconstruções durante o tempo que eu levava tomando uma ducha. Com Sydney, mal houve tempo o suficiente para decorar o local com velas e flores. Mas eu tinha dado um jeito.
Um sorriso surgiu em seu rosto – Somente passou um mês.
– Hey, não diga “somente” – eu avisei. – Ainda é monumental. E eu lhe digo que planejo comemorar todo mês pelo resto de nossas vidas.
Seu sorriso se transformou em um completamente largo enquanto ela corria seus dedos através das pétalas de um vaso cheio de flores. Fez o meu coração doer. Eu não conseguia me lembrar da última vez que tinha visto um sorriso genuíno nela. – Você até mesmo conseguiu peônias – elas disse. – Como você conseguiu isso?
– Hey, eu tenho minhas maneiras – afirmei.
Apesar de que é provavelmente melhor ela não saber quais são essas maneiras, uma voz em minha cabeça avisou.
Sydney caminhou em volta e avaliou o resto do meu trabalho manual, o qual incluía uma garrafa de vinho tinto e uma caixa de trufas de chocolate artisticamente colocada na mesa da cozinha. – Não é um pouco cedo para o dia? – Ela provocou.
– Depende de quem está perguntando – eu disse, acenando em direção da janela escura. – Para você, é tecnicamente noite.
Seu sorriso diminuiu um pouco – honestamente, eu dificilmente consigo dizer que horas são mais.
Esse estilo de vida a está afetando, minha voz interior avisou. Apenas olhe para ela.
Mesmo na luz tremulante das velas, eu podia ver os sinais do estresse que Sydney estava sentindo. Sombras escuras debaixo de seus olhos. Um olhar perpetuamente cansado – nascido mais de desespero do que fadiga. Ela era a única humana na Corte Real Moroi que não estava aqui especificamente para alimentar nós vampiros. Ela também era a única humana em qualquer lugar civilizado Moroi que havia se casado com um de nós. Fazer isso significou causar a ira de seu próprio povo e se isolado de seus amigos e família (os que estava ainda falando com ela, pelo menos) no mundo externo. E graças aos olhares de desprezo e curiosidade que ela recebia pela Corte, Sydney tinha basicamente se isolado das pessoas daqui também, estreitando todo seu mundo aos cômodos da nossa suíte.
– Espere, há mais – eu disse rapidamente, esperando distraí-la. Com um aperto de botão, música clássica começou a tocar pelo sistema de som da sala de estar. Estendi minha mão para ela – já que não conseguimos dançar no nosso casamento.
Isso trouxe seu sorriso de volta. Ela pegou minha mão e me permitiu trazê-la para perto. Eu a girei pela sala, com cuidado para não esbarrar em quaisquer das velas, e ela me olhou com admiração – o que você está fazendo? É uma valsa. Tem três batimentos. Você não consegue escutar? Um-dois-três, um-dois-três.
– Mesmo? Isso que uma valsa é? Hm, eu apenas escolhi algo que parecia chique. Já que nós não temos realmente uma música ou algo assim – eu ponderei por um segundo. – Acho que nós falhamos como um casal nesse quesito.
Ela zombou – se isso é a nossa maior falha, então eu acho que nós estamos bem.
Longos momentos passaram enquanto eu a conduzia pela sala, então eu de repente disse – “Ela me Cegou com Ciência”.
– O quê? – Sydney perguntou.
– Essa poderia ser nossa música.
Ela riu abertamente, e eu percebi que não escutava esse som há muito tempo. Isso de alguma forma fez meu coração doer e pular. – Bem, – ela disse – acho que isso é melhor que “Amor Manchado”.
Nós dois rimos então, e ela pousou sua bochecha contra meu peito. Beijei o topo da sua cabeça dourada, absorvendo os aromas misturados de seu sabonete e pele. – Parece errado – ela disse baixo. – Em ser feliz, eu digo. Quando Jill ainda está lá fora…
Com esse nome, meu coração afundou, e uma escuridão pesada ameaçou descer sobre mim e estraçalhar esse pequeno momento de alegria que eu havia criado. Eu tive que empurrar com força a escuridão, me fazendo dar um passo para trás de um perigoso precipício que eu conhecia muito bem esses dias. – Nós a encontraremos – sussurrei, aumentando meu aperto em Sydney. – Onde quer que ela esteja, nós a encontraremos.
Se ela ainda estiver viva, aquela voz interior disse descaradamente.
Talvez seja interessante apontar que essa voz que continuava falando na minha cabeça não era parte de um exercício mental. Era na verdade uma voz muito distinta, pertencendo a minha falecida tia Tatiana, antiga rainha dos Moroi. Ela não estava comigo em nenhuma forma fantasmagórica no entanto. Sua voz era uma alucinação, nascida do crescente apego que a insanidade estava tomando conta de mim, graças ao raro tipo de mágica que eu praticava. Uma rápida prescrição a teria calado, mas também teria me cortado da minha mágica, e nosso mundo estava muito imprevisível no momento para eu fazer isso. E então essa Tia Tatiana fantasma e eu ficamos companheiros de quarto na minha mente. Algumas vezes essa presença lunática me assustava, fazendo-me questionar quanto tempo até eu completamente perder. Em outras vezes, eu me encontrava dialogando – e isso me assustava ainda mais, que eu estava começando a considerá-la normal.
Por agora, eu consegui ignorar Tia Tatiana enquanto eu beijava Sydney de novo. – Nós iremos encontrar Jill – eu disse ainda mais firme. – E enquanto isso, nós temos que continuar vivendo nossas vidas.
– Imagino que sim – disse Sydney com um suspiro. Eu podia dizer que ela estava tentando chamar de volta aquela alegria de mais cedo – se isso é para compensar nossa falta de dança matrimonial, eu me sindo meio pouco vestida. Talvez eu deveria procurar aquele vestido.
– Sem chance – eu disse. – Não que aquele vestido não fosse ótimo. Mas eu meio que gosto de você pouco vestida. Na verdade, eu não me importaria se você estivesse ainda mais pouco vestida…
Eu parei de valsar (ou qualquer outro movimento de dança que eu estivesse tentando fazer) e desci minha boca para a dela em um tipo muito diferente de beijo do que eu tinha acabado de dar a ela. Calor me encheu enquanto eu sentia a maciez de seus lábios, e fiquei surpreso em senti uma paixão de resposta nela. Na luz de nossas recentes circunstâncias, Sydney não tem se sentindo particularmente física, e honestamente, eu não podia culpá-la. Eu respeitei seus desejos e mantive minha distância… não percebendo o quanto eu tinha sentido falta desse fogo nela até agora.
Nós nos encontramos afundando no sofá, braços envolvidos com força em volta de nós, ainda nos beijando apaixonadamente. Pausei para estudá-la. admirando a forma que a luz da vela brilhava em seu cabelo loiro e olhos castanhos. Eu poderia ter me afogado nessa beleza, nisso e no amor que eu poderia sentir irradiando dela. Era um perfeito, muito necessário momento… pelo menos, era até que a porta se abriu.
– Mãe? – Exclamei, pulando de Sydney como se eu estivesse no ensino médio e não um homem casado de vinte e dois.
– Oh, olá, querido – minha mãe disse, passeando pela sala. – Por que todas as luzes estão apagadas? Parece um mausoléu aqui. A energia acabou? – Ela acendeu um interruptor, fazendo tanto eu quanto a Sydney retrair – está de volta agora. Mas você realmente não deveria ter acendido tantas velas. É perigoso – ela prestativamente assoprou um punhado.
– Obrigada – disse Sydney sem graça. – É bom saber que você leva segurança a sério – sua expressão me lembrou da vez que minha mãe “prestativamente” tinha retirado um monte de notas autoadesivas que estavam deixando bagunçado um livro que Sydney tinha gastado horas anotando meticulosamente.
– Mãe, achei que você ficaria fora por umas duas horas – eu disse severamente.
– Eu ficaria, mas estava ficando muito estranho no salão dos alimentadores. Você pensaria que todos estariam ocupados com o encontro do conselho, mas não. Tantas encaradas. Eu não podia relaxar. Então eles permitiram que eu trouxesse um comigo – ela olhou em volta. – Onde ele foi? Ah, ali – ela voltou para o corredor e conduziu para dentro um humano olhando atordoado que era um pouco mais velho que eu. – Sente-se ali naquela poltrona, estarei com você em instantes.
Eu pulei para os meus pés – você trouxe um alimentador aqui? Mãe, você sabe como Sydney sente sobre isso.
Sydney não fez comentário algum, mas empalideceu com a visão do alimentador sentando no outro lado da sala. Seus olhos – atordoados e felizes por causa das endorfinas que ele recebia por deixar vampiros se alimentares deles – encaravam ao redor sem expressão.
Minha mãe suspirou em exasperação – o que você espera que eu faça, querido? Não tinha absolutamente maneira alguma que eu poderia me alimentar com Maureen Tarus e Gladys Fashkov sentando lá e fofocando logo ao meu lado.
– Eu espero que você tenha um pouco de consideração pela minha esposa! – Eu exclamei. Já que Sydney e eu nos casamos e solicitamos refúgio na Corte, a maioria das pessoas – incluindo meu próprio pai – tinha virado as costas para nós. Minha mãe tinha nos apoiado, até mesmo indo além como morar conosco – que não era sem suas complicações.
– Tenho certeza que ela pode apenas esperar no quarto de vocês – minha mãe disse, se inclinando para assoprar mais velas. Notando as trufas na mesa, ela pausou para jogar um em sua boca.
– Sydney não tem que se esconder na sua própria casa – argumentei.
– Bem, – disse minha mãe – nem eu. É a minha casa também.
– Eu não me importo – disse Sydney, ficando de pé. – Vou esperar.
Eu estava tão frustrado, eu queria arrancar meus cabelos. Paixão não era mais o problema. Todas os traços daquela alegria de mais cedo que eu tinha visto em Sydney sumiram. Ela estava se recuando para dentro de si, voltando para aquele sentimento sem esperança de ser um humano preso em um mundo de vampiros. E então, impossivelmente, as coisas pioraram. Minha mãe tinha notado um dos vasos de peônia.
– Elas são lindas – ela disse. – Melinda deve ter ficado muito agradecida por aquela cura.
Sydney congelou no meio de uma passada – qual cura?
– Não é importante – eu disse apressadamente, esperando que minha mãe percebesse a dica. Em outros tempos, Daniella Ivashkov era uma mulher notavelmente astuta. Hoje, todavia, ela parecia estar no modo completamente alheio.
– Melinda Rowe, a florista da Corte – minha mãe explicou. – Adrian e eu esbarramos com ela na última vez que fomos nos alimentar. Ela estava tendo uma terrível crise de acne, e Adrian foi gentil o suficiente para acelerar sua cura. Ela prometeu ajudar conseguir umas peônias do estoque em retribuição.
Sydney se virou para mim, muda em sua fúria. Precisando acalmar esta situação imediatamente, eu agarrei seu braço e a puxei para nosso quarto. – Faça rápido – eu gritei para a minha mãe, logo antes de fechar a porta.
Sydney atacou imediatamente – Adrian, como você pôde? Você prometeu! Você me prometeu sem mais espírito, a não ser que fosse para ajudar Jill!
– Não foi nada – insisti. – Mal usou poder algum.
– Mas acrescenta! – Sydney gritou – você sabe que sim. Cada pedacinho. Você não pode desperdiçar em coisas assim… na acne de alguém!
Apesar de eu entender por que ela estava chateada, eu não conseguia evitar de sentir um pouco machucado – eu fiz isso por nós. Pelo nosso aniversário. Eu pensei que você iria gostar.
– O que eu gostaria é que meu marido continuasse são – ela rebateu.
– Bem, nós já estamos longe disso – disse.
Ela não sabe metade, comentou Tia Tatiana.
Sydney cruzou seus braços e sentou na cama – está vendo? Lá vai você. Fazendo uma piada de tudo. Isto é sério, Adrian.
– Eu estou sendo sério. Sei o que posso aguentar.
Ela encontrou meu olhar – você sabe? Ainda acho que você ficaria melhor se parasse o espírito de uma vez. Volte para sua pílulas. É o mais seguro.
– E sobre achar Jill? – Eu a relembrei – e se precisarmos da minha mágica de espírito para isso?
Sydney olhou para longe – bem, não tem sido de muito uso até agora. A mágica de ninguém tem sido.
O último comentário foi uma condenação de si mesma quanto de mim. Nossa amiga Jill Mastrano Dragomir foi sequestrada há um mês, e até agora, nossos esforços para localizá-la têm sido em vão. Eu não tinha sido capaz de alcançar Jill em sonhos de espírito, nem Sydney – uma aluna adepta de bruxaria humana – tem sido capaz de localizá-la usando os feitiços a sua disposição. O melhor que a mágica de Sydney tinha sido capaz foi nos dizer que Jill ainda estava viva, mas era só. A crença geral era que onde quer que ela estivesse, Jill estava sendo drogada – o que poderia efetivamente esconder alguém tanto da mágica humana quanto Moroi. Isso não nos impedia de sentir inúteis no entanto. Nós dois nos importávamos com Jill imensamente – e meu relacionamento com ela era particularmente intenso já que eu uma vez usei mágica de espírito para trazê-la de volta da beira da morte. Não saber o que tinha acontecido com ela agora tinha lançado uma sombra em Sydney e eu – e em qualquer tentativa de felicidade que tentávamos juntar enquanto estávamos nessa prisão domiciliar auto-imposta.
– Não importa – eu disse. – Quando nós a encontrarmos, eu precisarei da minha mágica. Não tem como falar o que eu precisarei fazer.
– Como consertar sua acne? – Perguntou Sydney.
Eu fiz uma careta – eu lhe disse, não foi nada! Deixe-me preocupar comigo e o quanto de espírito eu posso usar. Não é seu trabalho.
Ela ficou incrédula – claro que é! Sou sua esposa, Adrian. Se eu não for me preocupar com você, quem vai? Você precisa manter seu espírito sob controle.
– Eu posso cuidar disso – disse sobre dentes trincados.
– Sua tia ainda está falando com você? – Ela questionou.
Olhei longe, recusando encontrar seu olhar. Na minha cabeça, Tia Tatiana suspirou. Você nunca deveria ter contado a ela sobre mim.
Com o meu silêncio, Sydney disse – ela está, não é? Adrian, isso não é saudável! Você precisa saber disso!
Eu virei em raiva – eu consigo lidar com isso. Tudo bem? Eu consigo lidar com isso, e eu consigo lidar com ela! – Gritei – então pare de me dizer o que fazer! Você não sabe de tudo – não importa o quanto você quer que todos pensem que você sabe!
Ferida, Sydney deu um passo para trás. A dor em seus olhos doeram muito mais do que suas palavras anteriores tinham. Senti-me horrível. Como esse dia tinha ficado tão errado? Era para ter sido perfeito. De repente, eu precisava sair. Eu não conseguia suportar essas quatro paredes mais. Eu não conseguir suportar o controle da minha mãe. Eu não conseguia suportar sentir como se eu estivesse desapontando Sydney – e Jill. Sydney e eu viermos para a Corte buscando proteção de nossos inimigos, escondendo aqui para que então possamos ficar juntos. Ultimamente, parecia que esse arranjo estava perigando em nos separar.
– Eu tenho que sair – eu disse.
Os olhos de Sydney arregalaram – para onde?
Passei uma mão pelos meus cabelos – qualquer lugar. Qualquer lugar para tomar um ar. Qualquer lugar que não aqui.
Virei antes que ela pudesse dizer alguma coisa saí pela sala de estar, através de onde minha mãe estava bebendo do alimentador. Ela me deu um olhar confuso, mas eu ignorei e continuei até que eu estava fora da porta e através do lobby o prédio de visitas. Não foi até eu ter emergido do lado de fora, até o ar perfumado de verão atingir minha pele, que eu pausei para avaliar minhas ações – e pegar um pedaço de chiclete, que era minha maneira atual de evitar fumar quando estressado. Olhei de volta para o prédio, me sentindo culpado e covarde por ter corrido de nossa briga.
Não se sinta mal, Tia Tatiana disse. Casamento é difícil. Isso é por que eu nunca fiz.
É difícil, concordei. Mas não é uma desculpa para fugir. Eu preciso voltar. Preciso desculpar. Preciso resolver as coisas.
Você nunca vai resolver as coisas enquanto você estiver trancado aqui e Jill ainda desaparecida, avisou Tia Tatiana.
Dois guardar passaram por mim então, e eu peguei um pedaço de suas conversas, mencionando patrulhas extras para o encontro do conselho acontecendo. Lembrei o comentário anterior da minha sobre mãe sobre essa reunião, e inspiração de repente atingiu. Virando do prédio, comecei me apressar em direção ao que servia como palácio real aqui na Corte, esperando chegar a tempo da reunião.
Sei o que fazer, disse a Tia Tatiana. Sei como nos tirar daqui e consertar as coisas entre Sydney e eu. Precisamos de um propósito, um objetivo. E eu vou nos conseguir um. Preciso conversar com Lissa. Se eu conseguir fazê-la entender, consigo resolver tudo.
O fantasma não deu resposta enquanto eu andava. A minha volta, a meia noite vestiu o mundo em escuridão – hora de dormir para humanos, horário nobre para nós em horário vampiresco. A Corte Moroi estava arranjada como uma universidade: mais ou menos quarenta prédios de tijolos organizados em torno de praças e pátios lindamente arrumados. Era o alto do verão, quente e úmido, e tinha um bom número de pessoas fora de casa. A maioria estava muito consumida com seus próprios assuntos para me notarem ou perceberem quem eu era. Os que faziam me lançavam aqueles mesmos olhares curiosos.
Eles estão apenas com inveja, Tia Tatiana declarou.
Não acho que seja isso, disse a ela. Mesmo sabendo que ela era uma alucinação, era difícil não responder às vezes.
Claro que é. O nome Ivashkov sempre inspirou temor e inveja. Eles estão todos realçando, e eles sabem. No meu tempo, isso nunca teria sido tolerado. É aquela sua rainha criança que deixa as coisas correrem sem rumo.
Mesmo com os olhares intrusivos, percebi que eu apreciava minha caminhada. Não era mesmo saudável ficar trancado tanto dentro de cada – algo que eu nunca achei que admitiria. Apesar da densidade do ar úmido, sentiu leve e refrescante para mim, e me percebi desejando que Sydney pudesse estar aqui fora também. Um momento depois, decidi que isso não era certo. Ela precisava estar do lado de fora depois, quando o sol estava alto. Esse era o tempo para humanos. Estar no nosso horário estava provavelmente sendo tão tudo quanto como seu isolamento. Fiz uma nota mental para sugerir uma caminhada com ela depois. Sol não nos matava como com os Strigou – maus vampiros morto-vivos – mas não era sempre confortável para os Moroi também. A maioria dormir ou ficava do lado de dentro durante o dia, e seria mais improvável para Sydney se esbarrar com alguém se programarmos nossa saída corretamente.
O pensamento me animou enquanto eu jogava outro pedaço de chiclete e chegava ao palácio real. Do lado de fora, parecia como todos os outros prédios, mas dentro, era decorado com toda a grandeza e opulência que você esperaria de uma realeza de uma civilização antiga. Os Morois elegiam seus monarcas entre doze família reais, e enormes retratos dessas figuras ilustres se alinhavam nos corredores, iluminados pelas luzes de candelabros brilhantes. Conjuntos de pessoas caminhavam nos corredores, e quando cheguei à câmara do conselho, vi que eu cheguei no final do encontro. Pessoas estavam saindo enquanto eu entrava, e muitos deles, também, paravam para me encarar. Ouvi sussurros de “abominação” e “esposa humana”.
Eu os ignorei e mantive meu foco no meu objetivo real, perto da frente da sala. Lá, perto da plataforma do conselho, estava Vasilisa Dragomir – a “rainha criança” que Tia Tatiana havia referido. Lissa, como eu a chamava, estava rodeada por dhampirs guardiãos com roupas escuras: guerreiros metade-humano, metade-Moroi, cuja raça havia se originado há muito tempo atrás, quando Morois e humanos haviam casado entre eles sem escândalo. Dhampirs não podiam ter filhos um com o outro, mas através de uma sacada genética, a raça deles continuavam por reproduzir com Morois.
Em pé logo atrás dos seguranças de Lissa, imprensa Moroi gritavam perguntas para ela que ela respondeu com aquela mesma maneira calma dela. Convoquei um pouco de mágica de espírito para poder ver sua aura, e ela ascendeu na minha visão. Ela brilhava com dourado, indicando que ela era uma usuária de espírito como eu, mas suas outras cores diminuíram, e havia uma qualidade trêmula em todas elas, mostrando que ela estava ansiosa. Soltei a magia enquanto eu me apressava para a multidão e balancei minha mão na direção dela, gritando para ser ouvido através do barulho. “Vossa majestade! Vossa majestade!”.
De alguma forma, ela ouvir minha voz por cima das outras e acenou para eu ir para frente assim que ela terminou de responder as perguntas de alguém. Seus guardas abriram para me deixar chegar perto. Isso acendeu o interesse de todos – especialmente quando os curiosos viram quem ela tinha permitido entrar em seu espaço pessoal. Eu podia ver que eles estavam morrendo de vontade de saber o que estávamos discutindo, mas os guardiões os mantiveram distantes, e havia muito barulho na sala de qualquer forma.
– Bem, isso é uma surpresa inesperada. Você não poderia ter marcado uma reunião? – Ela me perguntou com uma voz baixa, ainda mantendo aquele sorriso público no rosto – Teria atraído muito menos atenção.
Dei de ombros – tudo que eu faço atrai atenção nestes dias. Eu parei de perceber.
Uma faísca de diversão legítima brilhou em seus olhos, então eu me senti bem por pelo menos trazer isso à tona – o que eu posso fazer por você, Adrian?
– É o que eu posso fazer por você – eu disse, ainda consumido pela minha ideia que me atingiu mais cedo. – Você tem de deixar Sydney e eu procurarmos por Jill.
Seus olhos arregalaram, e o sorriso escorregou – deixar vocês irem? Você me implorou para deixá-los ficar aqui um mês atrás!
– Eu sei, eu sei. E sou grato. Mas suas pessoas ainda não encontraram Jill. Você precisa chamar uma ajuda especial com habilidades especiais.
– Se eu me lembro, – ela disse – você e Sydney já tentaram essas habilidades especiais. E falharam.
– Por isso que você precisa nos deixar sair daqui! – Eu exclamei – voltar para Palm Springs e…
– Adrian, – Lissa interrompeu – você está se ouvindo? Você veio para cá porque os Alquimistas estavam caçando vocês dois. E agora você quer voltar andando para lá para suas garras?
– Bem, não quando você coloca dessa maneira. Imaginei que nós espreitaríamos quando eles não soubessem e…
– Não – ela interrompeu de novo. – Absolutamente não. Tenho o bastante para me preocupar sem que vocês dois sejam pegos pelos Alquimistas. Você quer que eu lhes proteja, e é isso o que eu irei fazer. Então não tenha nenhuma ideia de fugir, os portões estão sendo vigiados. Ambos ficarão aqui, onde estão seguros.
Seguros e começando a enlouquecer, pensei, lembrando no olhar atordoado nos olhos de Sydney.
Querido, Tia Tatiana sussurrou para mim, você estava começando a enlouquecer antes disto.
– Tenho boas pessoas procurando por Jill – Lissa continuou quando eu não a respondi. – Rose e Dimitri estão lá fora.
– Por que eles não a encontraram? E se alguém quisesse retirar você, por que eles não…
Não pude terminar, mas a tristeza nos olhos verdes-jade de Lissa contou que ela sabia. Graças a uma lei que ela estava tentando alterar, o trono de Lissa requeria que ela tivesse um parente vivo. Qualquer um desejando remover Lissa teria que simplesmente matar Jill e mostrar uma prova. O fato que ainda não tenha acontecido era uma benção mas também aprofundava o mistério em torno disto. Por que mais alguém levaria Jill?
– Vá para casa, Adrian – disse gentilmente Lissa. – Conversaremos mais depois, em privado, se você quiser. Talvez nós criaremos outras opções.
– Talvez – concordei. Mas eu realmente não acreditava.
Deixei Lissa com seus admiradores e escorreguei de volta para a multidão de queixo caído, enquanto um humor sombrio e bastante familiar começou a se instalar em mim. Ir até Lissa tinha sido um impulso, um que tinha me dado esperança momentânea. Quando Sydney e eu tínhamos solicitado santuário, nós não tínhamos ideia do que estava prestes a acontecer com Jill. Era verdade que Lissa tinha boas pessoas procurando por Jill – e até a ajuda relutante da antiga organização de Sydney, os Alquimistas. Ainda, eu não conseguia me livrar da sensação de culpa-montada que se Sydney e eu estivéssemos lá fora, ao invés de nos escondendo, nós encontraríamos Jill. Havia algo acontecendo que nós não compreendíamos ainda. Caso ao contrário, os sequestradores de Jill teriam…
– Bem, bem, bem. Olhem quem decidiu mostrar seu rosto covarde.
Eu parei de supetão e pisquei, mal reconhecendo onde eu estava. Meus pensamentos estavam agitados tão furiosamente que eu tinha feito metade do caminho para casa e agora estava parado em um caminho de pedra que bifurcava entre dois prédios – um trajeto quieto, fora do caminho que era perfeito para uma emboscada. Wesley Drozdov, um Moroi da realeza que tinha se tornado um nêmesis meu recentemente, estava parado bloqueando meu caminho, com vários amigos envolta.
– Isso é mais do que você normalmente viaja, Wes – eu disse suavemente. – Escave um pouco mais, e talvez você terá finalmente uma luta justa para…
Um punho bateu em mim por trás, na minha lombar, tirando o ar de mim e fazendo eu tombar para frente. Wesley veio para cima de mim e me pegou em um ganho de direita antes que eu pudesse responder. Eu percebi vagamente, através da minha dor, que o comentário que eu estava prestes a fazer a ele era realmente a realidade: Wesley estava viajando com um grupo porque era a única maneira que ele poderia combater minha magia de espírito. Enquanto o pé de alguém atingiu meu joelho, me forçando para o chão, percebi que eu, de fato, tinha sido um idiota ao me revelar tão publicamente. Wesley esteve esperando uma chance para se vingar por antigos desentendimentos, e agora ele tinha conseguido.
– Qual é o problema? – Wesley perguntou, me chutando forte na enquanto eu estava deitado no chão, lutando para me levantar. – Sua esposa alimentadora não está aqui para lhe salvar?
– Sim – outro alguém esbravejou. – Cadê a sua vadia humana?
Eu não conseguia responder através da dor. Mais chutes se seguiram, de mais pessoas do que eu conseguia acompanhar. Suas faces nadavam sobre mim, e eu estava chocado ao reconhecer um número delas. Eles não era todos companheiros usuais do Wesley. Alguns deles eram pessoas que eu conhecia, com quem tinha festejado no passado… pessoas que eu um dia tinha considerado amigos.
Uma pancada na minha cabeça causou estrelas dançando na frente dos meus olhos, momentaneamente borrando suas faces na minha visão. Suas provocações se misturando com uma cacofonia ininteligível golpe após golpe. Eu me encolhi em agonia, lutando para respirar. De repente, através do ruído, uma clara voz ordenou – o que diabos está acontecendo?
Piscando, tentando trazer o mundo de volta ao foco, eu mal vi fortes mãos agarrando Wesley e o jogando contra o lado de um prédio próximo. Demorou um segundo e então um terço de seus companheiros que o seguiam perceberam que algo deu errado. Eles se afastaram como as ovelhas assustadas que eles eram, e um rosto familiar de repente apareceu enquanto Eddie Castile parou sobre mim.
– Algúem ainda a fim de ficar por aqui? – Resmunguei – vocês ainda superam a gente.
Seus números não eram nada comparados a um Eddie, e eles sabiam. Eu não poderia ver todos correndo, mas eu imaginei, e foi glorioso. Silêncio se seguiu, e um momento depois, outra pessoas estava me ajudando a levantar. Olhei para trás e vi outro rosto familiar, Neil Raymond, escorregando seu braço pelo meu.
– Você consegue andar? – Perguntou Neil, sua voz levemente tocada por um sotaque britânico.
Eu me encolhi enquanto eu coloquei peso sobre meu pé, mas eu assenti – sim. Vamos apenas para casa agora e ver se tem algo quebrado depois. Obrigado, por sinal – acrescentei, enquanto Eddie suportava meu outro lado e nós começamos a andar. – Bom saber que estes Moroi-em-perigo podem contar com cavalheiros galantes para me seguirem por aí.
Eddie balançou a cabeça – coincidência total, na verdade. Nós apenas estávamos indo para sua casa com algumas novidades.
Um calafrio me percorreu, e eu parei meus passos vacilantes. – Quais novidades? – Demandei.
Um sorriso cruzou as feições de Eddie – relaxe, são boas notícias. Eu acho. Apenas inesperadas. Você e Sydney têm um visitante no portão da frente. Um visitante humano.
Se eu não estivesse com tanta dor, meu queixo teria caído. Isso era novidades inesperadas. Ao casar comigo e procurar santuário entre os Moroi, Sydney havia se cortado da maioria dos seus contatos humanos. Um deles aparecendo aqui era estranho, e não poderia ser um Alquimista. Um Alquimista teria sido mandado embora.
– Quem é? – Perguntei.
O sorriso de Eddie se tornou em um completo.
– Jackie Terwilliger.